• 05/05/2024

Depois de Daniel Alves, vítimas de violência sexual não serão desacreditadas tão facilmente

Foram 16 minutos dentro de um banheiro da boate Sutton, em Barcelona, que selaram o destino tanto de Daniel Alves quanto o da jovem, na época com 23 anos, que o acusou de estupro. A vida de ambos nunca mais foi a mesma depois daquela noite de 30 de dezembro de 2022.

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Ele, um jogador que se gabava de ser um dos maiores colecionadores de títulos da história do futebol, com carreira vitoriosa na Europa, não escapou de ser preso, julgado e sentenciado pelo crime cometido. A justiça espanhola impôs uma pena de 4 anos e 6 meses de prisão ao jogador. Além disso, ele cumprirá 5 anos de liberdade vigiada e deve ficar 9 anos sem manter qualquer contato com a vítima.

Talvez tivesse passado em algum momento pela cabeça de Daniel de que poderia se safar como o colega Robinho. Condenado a 9 anos de prisão na Itália pela participação num estupro coletivo, Robinho fugiu para o Brasil antes de ser preso.

Do outro lado, a vítima, uma jovem que teve a vida afetada pela violência a que foi submetida naquela noite. Não custa lembrar do relato chocante da jovem repetido diante do tribunal e já detalhado à justiça ao longo do processo. Com identidade preservada e voz distorcida, a jovem contou ter ido com Daniel a um local mais reservado da boate. Ao perceber que entraria num banheiro com o jogador, mudou de ideia. Tentou sair mas foi impedida por ele. O jogador a teria forçado a fazer sexo oral nele . Diante da negativa, Daniel bateu na jovem e a penetrou de maneira violenta. Desde então, segundo relato da prima da vítima, ela chora com frequência e vive amedrontada de que será perseguida ao sair às ruas.

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Já a versão de Daniel sobre o ocorrido mudou inúmeras vezes. No tribunal, acrescentou que estava bêbado naquela noite, na tentativa de que a bebedeira pudesse ser um atenuante para diminuir a pena. A defesa dele também tentou emplacar uma tese de que Daniel não teve direito a um julgamento justo. Por conta de ser quem é, teria sido submetido a um julgamento paralelo, em que a presunção de inocência não foi considerada. Vamos combinar que mudar a toda a hora a versão do que teria acontecido, não contribuiu muito para reforçar a tal presunção de  inocência.

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Mas o que o julgamento de Daniel Alves deixa como precedente importante para casos similares no futuro é que ele enterra velhas e sussurradas teorias que sempre surgem quando um homem rico e famoso é denunciado por crime de violência sexual.

A primeira delas é a de que a vítima quer se beneficiar ao fazer uma denúncia. Queria entender que tipo de benefício tem uma mulher que passa a tomar antidepressivo para poder seguir com a vida adiante depois de um estupro.

Além disso, no caso do jogador, houve desde início um cuidado para que a vítima não fosse exposta. Ela não queria ter a identidade revelada e teve seu direito respeitado pela justiça. Adotar a não exposição como regra pode contribuir para que outras mulheres sintam mais segurança para denunciar seus agressores.

Outra teoria antiga que cai por terra neste julgamento é a de que a mulher não pode mudar de ideia, após corresponder à abordagem de um homem. No caso de Daniel Alves, a abordagem já começou problemática, a ponto de a vítima, assim como a prima e uma amiga que estavam na boate com ela, se sentirem desconfortáveis com as investidas um tanto pegajosas do jogador, que chegou a colocar a mão nas partes íntimas delas. Quem é mulher, entende perfeitamente isso. É mais do que compreensível que uma mulher fique apreensiva nessa situação, temendo pela sua segurança. Mudar de ideia é o instinto de sobrevivência falando mais alto. Não há nada de errado nisso, muito menos algo que possa invalidar o testemunho de uma vítima de estupro.

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Talvez o grande legado do julgamento de Daniel Alves que chega ao fim é que ele jogou luz sobre o que representa um ato sexual realmente consentido. Uma vez que uma mulher diz “não”, zera tudo. Sem consentimento, sem o “sim”, o sexo se converte em violência sexual.

Ao contrário do que pensava a vítima de Daniel Alves, que temia que ninguém iria acreditar no que tinha passado com ela na Sutton, seu depoimento não foi desacreditado. Só assim pode-se colocar um fim em comportamentos abusivos de homens como Daniel Alves, que se acham poderosos e que podem fazer o que bem entenderem quando avistam uma mulher que lhes desperta interesse.

(Portal Terra)

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