Nos últimos anos, tem crescido o número de fintechs e bancos digitais que exploram o nicho de produtos financeiros direcionados a crianças e adolescentes. A tendência parece ser um reflexo da digitalização do setor e do amadurecimento das startups financeiras nacionais. Esses avanços, por sinal, têm ganhado cada vez mais relevância no Brasil, já que o país faz parte da tríade com maior adesão aos bancos digitais do mundo, junto dos Emirados Árabes Unidos e da Árabia Saudita – é o que aponta o estudo Global Digital Banking Index 2021, realizado pelo banco digital N26 em parceria com a Accenture.
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Entre os benefícios oferecidos por esses novos produtos, estão funções de controle de mesada virtual, cartões de débito, cartões de crédito pré-pagos, ofertas de gift cards, opções de investimentos mais seguros, além de outras ferramentas de gestão financeira para públicos que ainda não atingiram a maioridade. Tudo é controlado e supervisionado de perto pelos pais ou responsáveis legais, com notificações constantes a respeito de cada operação realizada.
Para Eliane Tanabe Deliberali, planejadora financeira CFP pela Planejar (Associação Brasileira de Planejamento Financeiro), este acompanhamento é essencial e não tem idade máxima para acontecer. “Os pais têm um papel muito importante no discernimento das informações para os seus filhos – o que faz sentido, o que é seguro, o que é perigoso, onde se envolver e onde não -, para impedir que eles entrem em ‘ciladas’”.
Para ela, é importante que esses novos produtos financeiros ofereçam, principalmente, lições de educação financeira, os fundamentos para lidar com finanças pessoais desde cedo, “para que cheguem à idade adulta já mais preparados e experientes”, explica.
Nesse cenário, saber gerir dinheiro em espécie se faz tão importante quanto aprender a lidar com o “dinheiro digital”, já que um complementa o outro. “Com 13 anos, por exemplo, eles já têm um pouco mais de consciência e autonomia para isso”, aponta Deliberali.
No mercado, os destaques estão nos produtos e serviços do Banco Inter, com sua Conta Kids; do Banco Next, com o nextJoy; do C6 Bank, com o C6 Yellow; e do Mercado Pago, com a Conta Menor Idade. A próxima promessa parece ser a conta do Nubank para jovens entre 12 e 17 anos, que ainda está em fase de testes. Trazendo serviços e recursos práticos e adequados para crianças e adolescentes, são opções que procuram oferecer uma gestão facilitada da vida financeira desses públicos e ainda aproveitam a oportunidade para ensinar as bases de educação financeira para eles, estimulando o controle de gastos e o hábito de investir desde cedo.
Para Daniela Calanca, consultora financeira da W1 Consultoria, nesses novos produtos financeiros digitais, “não podem faltar conceitos que façam a criança entender que é preciso gastar, poupar, doar, e que a vida tem altos e baixos. As crises, os baixos são cíclicos, e você precisa estar preparado para isso. É preciso ter métodos que estimulem os bons hábitos, que façam entender o real valor do dinheiro e que ele é para o todo. É a ideia de que os maus hábitos são imediatistas, enquanto os bons hábitos são pensados para o futuro”, afirma.
A seguir, confira mais detalhes sobre as contas bancárias digitais oferecidas por grandes players do mercado para o público infanto-juvenil, considerando suas funcionalidades, condições, benefícios e processos de abertura de conta:
1. Inter
Lançada em 2020, a Conta Kids do Inter é uma conta digital gratuita destinada a crianças e adolescentes de até 17 anos. Hoje, o serviço já possui mais de 1 milhão de correntistas. Os jovens podem administrar suas contas via Super App do Inter, e os pais ou responsáveis monitoram a utilização dela de perto.
Entre os benefícios oferecidos, estão cartão de débito, ofertas de gift cards de jogos, Uber, iFood, entre outros, e acesso a investimentos de renda fixa, como CDB, LCI e LCA – opções de maior segurança e com boas taxas de rentabilidade. Outra possibilidade são os fundos de investimento, que permitem aplicações em diversos ativos do mercado financeiro, com direito à cashback de uma parte das taxas do chamado “rebate” (comissão paga pelos fundos de investimento).
Para abertura da conta, é preciso ter os documentos de identificação da criança ou adolescente em mãos, além do envio de documentos dos pais ou responsáveis para que possam administrar todas as movimentações da conta. Com a aprovação da conta e documentos, é enviado o cartão de débito personalizado com o nome do usuário, para que ele não precise andar com dinheiro no bolso e tenha mais liberdade para pequenas compras.
“A conta Kids é o início da vida financeira dos nossos clientes, e também dá a eles acesso à educação financeira e possibilidades de aprenderem a se preparar para o futuro”, conta Eduardo Cotta, superintendente de conta digital do Inter.
2. C6 Bank
Em 2021, o C6 Bank lançou a C6 Yellow, conta gratuita para crianças e adolescentes menores de idade. O produto permite receber mesada, realizar transações via Pix e fazer operações com cartão de débito.
De acordo com o head de produtos, pessoa física e CRM do C6 Bank, Maxnaun Gutierrez, “a conta C6 Yellow permite que crianças e adolescentes aprendam a fazer um Pix, pagar contas, além de entender a importância de consumir de forma inteligente”.
A abertura da conta é feita diretamente no aplicativo do C6 Bank pelos pais ou responsáveis dos jovens de até 17 anos e seis meses de idade. Depois de uma análise, a criança ou adolescente pode baixar o aplicativo do C6 Yellow no celular, fazer o cadastro e escolher a cor do seu cartão de débito.
Todas as compras feitas pelos usuários são comunicadas aos responsáveis por SMS. No banco, o atendimento é feito pela conta do responsável, que também pode acompanhar a movimentação e o extrato da conta C6 Yellow.
Os cartões de débito são oferecidos em várias opções de cores e, recentemente, receberam uma nova: o Acqua, de tom azul turquesa, o primeiro cartão biodegradável do Brasil. “Ao incluir o cartão Acqua entre as opções disponíveis, damos ao cliente a oportunidade de escolher a cor que ele mais gosta e de promover uma reflexão sobre a sustentabilidade”, afirma Gutierrez.
3. Next
Lançado no mercado em agosto de 2020 em parceria exclusiva com a Disney, o nextJoy, do Banco Next, é uma plataforma de educação financeira com serviços de banking agregados. A conta digital é gratuita e oferece aos clientes – de 0 a 17 anos – um cartão de débito, mesada programada, trilhas de educação financeira, transações via Pix, pagamento por boleto e transferências, além de um hub de descontos com ofertas de marcas inseridas no dia a dia desse público, como Estrela, Magazine Luiza, Domino’s Pizza, Cinemark, Toys Net, Petz, Hype Games e mais.
O aplicativo ainda permite que as crianças e jovens personalizem a interface com skins de filmes e desenhos da Disney, como Star Wars, Homem Aranha, Princesas, Mickey, heróis Marvel e outros.
Para abrir uma conta, é preciso ser cliente Next ou Bradesco. Dentro do aplicativo do Next, basta acessar a categoria nextJoy para começar. A abertura de conta deve ser feita pelos pais ou responsáveis.
4. Mercado Pago
Neste ano, o Mercado Pago lançou a Conta Menor Idade, direcionada a adolescentes entre 13 e 17 anos. Trata-se de uma conta digital gratuita, que permite emitir cartão de débito sem anuidade, realiza transferências por Pix ilimitadas e ainda herda o nível dos responsáveis legais no Mercado Pontos. O produto já está disponível para 100% da base de clientes da empresa e para novos usuários.
Outros benefícios aos titulares também incluem recarga de celular, saque em caixas eletrônicos, ofertas de gift cards para serviços, como Uber e iFood, e para jogos, como Xbox e Playstation, além de rendimento do dinheiro em conta acima do obtido caso estivesse na caderneta de poupança.
A iniciativa procura estimular a autonomia financeira dos jovens desde cedo. “Muitos brasileiros tiveram que aprender na marra e da pior forma possível conceitos como cheque especial e taxa de juros ao ter sua primeira conta bancária somente quando estavam na universidade ou já na fase adulta. Precisamos tornar a conversa sobre dinheiro um hábito nos lares, incluindo principalmente crianças e adolescentes em fluxos autônomos, ensinando-os como lidar com o dinheiro”, explica Ignácio Estivariz, diretor-sênior de contas digitais do Mercado Pago.
Em campanha publicitária recente, a fintech trouxe Sasha Meneghel para estrelar uma versão repaginada do famoso programa infantil de sua mãe, o “Xou da Xuxa”. A ação dialoga diretamente com o público-alvo do produto e com os seus pais ou responsáveis, entoando o mote “tá na hora, tá na hora, tá na hora dos seus grandinhos cuidarem do próprio dinheiro”.
Para abrir uma conta, os novos usuários precisam baixar o app do Mercado Pago, seguir o passo a passo com documentação e cadastro e também indicar quem vai autorizar a abertura da conta. Em seguida, o responsável legal requisitado receberá um e-mail e, ao confirmá-lo, dará continuidade ao processo.
5. Nubank
O próximo destaque parece estar com o Nubank. Em junho deste ano, a empresa iniciou testes de acesso a uma conta digital e a um cartão de débito inéditos para jovens entre 12 e 17 anos. Segundo a fintech, “o propósito da novidade é permitir que jovens iniciem sua jornada financeira com segurança e transparência”. Os testes realizados até então têm coletado opiniões de pais e jovens para implementar melhorias de acordo com as suas necessidades, a fim de expandir a oferta do produto ao longo dos próximos meses.
Além do cartão de débito com limite atrelado ao montante disponível na conta, na primeira versão, os jovens terão acesso a todas as funcionalidades da conta do Nubank, como recarga de celular, transações via Pix, transferências sem tarifas para qualquer conta, compras online no débito e saques em caixas eletrônicos de todo o país.
O fluxo de abertura de conta foi “idealizado para garantir segurança e tranquilidade aos pais ou responsáveis, contando com a sua participação ativa”, aponta a companhia. Além do consentimento, eles deverão preencher os dados iniciais de registro do menor que terá acesso à conta.
(Portal Exame)