Será que cobramos das nossas crianças além das suas necessidades e suas habilidades.
Esta questão tem me direcionado e procuro ajudar meus alunos para diminuir suas dúvidas diárias em seus comportamentos. Talvez, ainda não tenha a solução ideal, mas cada dia mais, vejo a necessidade de que devemos nos ater a essa preocupação.
As crianças vão para a escola e aprendem, estudam, observam, brincam estão ocupadas todo o tempo, quando retornam para as suas casas, as atividades continuam e continuam sem tempo. No pouco tempo que lhes resta vão para os jogos eletrônicos, a única fuga da rotina que lhes permite fazer o que realmente querem e gostam. Não quero aqui discutir o mérito da utilização excessiva do mundo digital.
No acompanhamento que faço com meus alunos observo que eles necessitam de mais atenção ao que realmente querem, desejam e gostam. Quantas vezes lhes perguntamos sobre suas vontades, seus desejos mais simples?
Vejam bem, não é sobre o que eles desejam comprar ou para onde viajar.
Quanto tempo dedicamos para perguntar coisas banais do seu dia a dia? O que fazemos é só questionar sobre as notas, aproveitamento e outras “cobranças” que nem percebemos que são feitas.
Por essa razão tenho pensado muito na formulação dos rótulos que essas nossas atitudes geram nas nossas crianças, escola, pais, amigos, bullying. Elas surgem e nem percebemos o quanto afetam nossos filhos.
O mundo se transforma constantemente, difícil acompanhar e estar atento a tudo o que acontece.
As crianças precisam ser ouvidas, observadas, pois o que para nós adultos, talvez, não seja tão importante, pode para elas ser um fator que marcará sua vida e as impedirá de se posicionar adequadamente diante do que têm que enfrentar, que pode ser uma batalha aos seus olhos.
O Bullying por exemplo deixa marcas, “rótulos” e precisamos preparar nossos filhos para se “reposicionarem” diante dessa situação, para que aprendam a revertê-la com sua capacidade de reagir com inteligência e sem alterar a sua autoestima. Ao ensinar a reverter a situação de forma adequada, vão aprender a defender o que desejam, desenvolvendo uma função de prevenção mental para fatos que os agridam ou aborreçam.
Aprender a pensar e a reagir com a habilidade das suas emoções será primordial.
Devemos trabalhar para que tenham clareza de pensamentos, precisa ser identificado qual o sentimento, a emoção que os tocou. O comportamento só muda se identificarmos a razão e aí sim, o emocional entende o que acontece. O que ela precisa fazer, agir diante de situações adversas?
Quando uma criança é rotulada por qualquer motivo ou pessoa, esse sentimento pode permanecer até que ela descubra como combatê-lo. É claro, que esse processo não ocorrerá de forma imediata, será preciso tempo para que alguém especializado a oriente, mude o seu padrão comportamental. Daí surge a importância de se perguntar, questionar a criança sobre os seus desejos, insatisfações por mais simples que pareçam. O que está acontecendo? Por que não está feliz?
Vamos dar oportunidade às crianças de se manifestarem, permitir que tenham um autocomprometimento, ensinar para que se apropriem dos seus sentimentos e que possam assumir a sua vida por si mesmos. Ao ajudarmos nossas crianças damos a chance de assumirem para si a responsabilidade de agir em favor próprio.
Ao invés de só apontar erros, dar rótulos, vamos fazê-las sentir o quanto é importante pensar, agir em prol da sua própria felicidade. Não devemos julgar, mas pensar “que cada um age como sabe, como pode”, e sim vamos ensiná-los a identificar o que incomoda e fazê-los agir e entender de forma que se sintam bem, emponderados e felizes, com a atenção e treino adequados, assim esse objetivo será alcançado dentro da sua realidade.
Vamos julgar menos e pensar mais!
Por Profa. Sylvania Kabiljo,
Professora Graduada em Letras pela USP, Palestrante, Especializada em TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), Distúrbios de Aprendizagem e Alfabetização pela Neurociência.
(Papo de Mãe)