A Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) está reforçando a importância do diagnóstico com precisão máxima para pacientes com qualquer tipo de câncer. No caso do adenocarcinoma, o câncer de pulmão que acomete a apresentadora de TV Ana Maria Braga, nota da entidade reforça indicação de que seja feita análise molecular do tumor, ”pois dependendo das alterações genéticas encontradas, há alternativas específicas de tratamento, as chamadas terapias-alvo”.
O médico oncologista e pesquisador do Instituto Nacional de Câncer (Inca) Luiz Henrique de Lima Araújo confirma que a análise molecular melhora o tratamento. “São exatamente essas nuances do melhor conhecimento da biologia molecular e de marcadores do câncer que permitiram a melhor individualização do tratamento, a chamada medicina personalizada. Com isso, os resultados do tratamento melhoraram muito, assim como a qualidade de vida dos pacientes”.
O patologista Felipe D´Almeida Costa do Departamento de Anatomia Patológica do A.C.Camargo Cancer Center e membro da SBP acrescenta que a pesquisa de perfil molecular “consegue identificar qual o melhor tipo de tratamento para cada paciente”, mas é indicada “para os pacientes com doença avançada”. Para o adenocarcinoma em fase inicial, “a indicação é cirurgia e radioterapia”, explica.
O teste molecular, no entanto, não é coberto pelo Sistema Único de Saúde. Segundo o especialista, pacientes do SUS podem ter acesso ao teste molecular por meio de programas de subsídio oferecidos pela indústria farmacêutica. “Aí, eles fazem o teste e caso seja elegível a receber o tratamento com medicamentos, de alto custo, eles [pacientes do SUS] buscam a via da judicialização para ter acesso a esse tratamento”, descreve D´Almeida Costa. O Inca, que faz parte do SUS, desenvolve pesquisa na área de carcinogênese molecular.
Em nota enviada, o Ministério da Saúde informa que cabe à Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) avaliar a inclusão de tecnologias no SUS, com base em critérios como eficácia, efetividade e custo-benefício, assim como a indicação e forma de uso.
“Isso permite orientar adequadamente a conduta dos profissionais de saúde, além de garantir a segurança dos pacientes. Podem enviar pedido de análise de novas incorporações no SUS representantes de laboratórios, de instituições de pesquisa, de entidades que atuam na área oncológica, bem como a sociedade em geral. Cabe esclarecer que até o momento, a Conitec não recebeu nenhum pedido para avaliação da incorporação destes exames para este tipo de câncer”, diz o comunicado.
Alto custo
O patologista assinala que o tratamento do câncer é custoso para o SUS. “O câncer de pulmão é um problema de saúde pública. São pacientes que se apresentam com a doença avançada, precisam de cirurgia, ou de tratamento de quimioterapia e vão para a UTI e acabam onerando tanto o sistema de saúde suplementar quanto o sistema de saúde pública”.
Por essa razão, D´Almeida Costa defende a taxação do cigarro e do fumo para enrolar. “Manter o preço do tabaco elevado consegue diminuir o número de pessoas que estão fazendo uso, consequentemente diminui o número de pessoas que vão ter câncer de pulmão e com isso o Estado economiza.”
O adenocarcinoma é um dos tipos de câncer no pulmão que ataca a camada de células que reveste o órgão e é considerado de desenvolvimento mais célere. “Quando o paciente tem um carcinoma de não-pequenas células são urgências oncológicas. Precisa tratar o quanto antes porque é um tumor muito agressivo”, alerta o especialista.
De acordo com D´Almeida Costa, a doença pode comprimir os vasos sanguíneos da região central do tórax e causar síndrome por congestão vascular e resultar inchaço no rosto por causa da compressão dos vasos sanguíneos. O paciente pode sofrer com dificuldade respiratória, acumular líquido na pleura (membrana que cobre o pulmão) e até sentir dor na coluna.
Como os demais casos de câncer no pulmão, o cigarro é responsável por oito de cada dez ocorrências da doença.