De acordo com dados divulgados em 2017 pela OMS (Organização Mundial da Saúde), uma em cada 160 crianças tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). Segundo estimativas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CD), dos Estados Unidos, divulgadas em 2018, esse número, na região, é ainda maior: um caso para cada 59 crianças. A patologia começa na infância e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Apesar de não haver uma cura definitiva para o TEA ou um tratamento padrão, existem terapias que podem ajudar a contornar alguns dos principais sintomas, como as dificuldades de comunicação e relacionamento social. Uma grande aliada é a fonoaudiologia, ciência que estuda as funções biológicas e comportamentais envolvidas na comunicação humana.
“Para terapia com crianças dentro do TEA tudo é muito relativo, pois cada criança apresenta características únicas. O desafio é justamente identificar onde estão as dificuldades de cada um e as habilidades a serem melhor exploradas. Para isso é necessária uma anamnese muito criteriosa. Além disso, cada sessão de terapia é também avaliativa”, esclarece a terapeuta Débora Brasil, Fonoaudióloga na Clifops – Clínica de fonoaudiologia e psicologia, em Brasília.
De acordo com a fonoaudióloga, o tratamento em crianças não é padrão e varia a depender da gradação do transtorno. O objetivo central da terapia é aprimorar a capacidade de comunicação, ação que vai muito além da manifestação verbal da linguagem, ou seja, do falar.
“A dificuldade não está só na fala. O ato de falar não significa, necessariamente, que a criança consegue se comunicar. A fala nem sempre é funcional, a criança pode até conseguir formular uma frase, ou pronunciar uma palavra, mas isso feito fora de contexto não tem significado e não a torna capaz de transmitir uma mensagem, um desejo ou de expressar uma sensação como a dor, por exemplo”, destaca.
De acordo com Débora, é importante salientar que existem pontos chaves na comunicação, que são anteriores a fala e devem ser trabalhados em crianças com ausência dessa habilidade, como o contato visual, interação, imitação e sensibilidade para estímulos do ambiente. “Muitas vezes os pais procuram um fonoaudiólogo com o desejo de ver o filho falando, mas até lá existem outros pontos que devem ser trabalhados na comunicação não verbal da criança”, pondera.
Já em casos no qual a criança apresenta fala, mas não a fala funcional, a fonoaudiologia tem o objetivo de desenvolver habilidades como sons específicos da língua, as palavras e frases, entonação e o conteúdo da fala, transumando-a em funcional.
Quando começar o tratamento
Segundo Débora, o ideal é que o tratamento em crianças diagnosticadas com TEA, ou que apresentem perturbações do desenvolvimento neurológico, como dificuldade de comunicação, socialização e padrão de comportamento restritivo e repetitivo, seja iniciado o quanto antes.
“Até os três anos de idade, as crianças apresentam uma neuroplasticidade maior, ou seja, nesse período, a capacidade que o cérebro possui de se reorganizar e assimilar novas habilidades, como falar e andar, são melhores. Por isso, iniciar o tratamento nesse período é tão importante. Não há tempo perdido, por mais que a criança não venha a ter o diagnóstico de TEA confirmado, a terapia vai auxiliar no desenvolvimento dessas habilidades”, esclarece.
Encontrar profissionais habilitados e que possuam experiência no tratamento de crianças com TEA não foi tarefa fácil para Simone Lisbôa, mãe de Pedro Henrique de 6 anos. “ O Pedro foi diagnosticado com 2 anos e começamos o tratamento aos 3. Busquei tratamentos públicos e particulares, sem sucesso. Particulares não tinham experiências com TEA e no público o tratamento foi coletivo, o que piorou. O Pedrinho tem TEA leve e não medicamentoso e em grupos eram muito severos, então ele começou a repetir ecolalias e estereotipias e por isso optei por interromper. Desde o momento que recebi o diagnóstico procurei me informar por todos os lados e comecei o tratamento até encontrar fonoaudiólogos que trabalhassem com TEA”, relembra.
Após encontrar profissionais capacitados para o acompanhamento do filho, Simone comemora os avanços na comunicação e socialização de Pedro. “Hoje ele faz tratamento com uma equipe multiprofissional que inclui terapia ocupacional, fono, sala de recursos e psicóloga. Graças a Deus, hoje ele fala tudo, formula frases e brinca com outras crianças”, observa.
Indícios do TEA
Segundo a fonoaudióloga, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é clínico, por isso deve ser diagnosticado por profissionais habilitados como o neurologista e apoiado na avaliação clínica de uma equipe multiprofissional que envolve psicólogo, fonoaudiólogo e terapeuta ocupacional. Porém, alguns marcos no desenvolvimento dos bebês e crianças podem ser indicativos e merecem atenção dos pais e pediatras.
“Existem alguns indícios que podem ser notados ainda quando bebê, como atraso em balbuciar, apontar, dificuldade em estabelecer contato visual, responder por estímulos, ausência de resposta ao próprio nome e as estereotipias, que são movimentos intencionais, repetitivos e sem finalidade, são alguns desses sintomas”, aponta.
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