• 29/04/2024

PF investiga se Abin sob Ramagem atuou por interesses de filhos de Bolsonaro

A investigação da Polícia Federal sobre a atuação da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) encontrou indícios de que a agência atuou para fornecer informações sobre investigações em andamento para Jair Renan e Flávio Bolsonaro, filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Veja também

Lula sanciona orçamento e veta R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares

Irregularidades na Abin, entre elas o uso do software espião FirstMile, estão na mira da operação Vigilância Aproximada, que investiga uma “organização criminosa que se instalou na Abin com o intuito de monitorar ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem a devida autorização judicial”.

O então presidente Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem durante evento na Abin, em 2020
O então presidente Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem durante evento na Abin, em 2020 – Marcos Corrêa/PR

No caso de Jair Renan, a Abin teria atuado para ajudar o filho do presidente que era alvo de investigação pela PF sobre as relações com empresas que mantinham e tinham interesse em contratos com o governo federal.

Um policial federal lotado na Abin chegou a seguir um dos alvos da investigação, que desconfiado acionou a Polícia Militar.

Leia também   Governo lança Plano Safra de R$ 364,22 bilhões para agronegócio

O policial foi ouvido pela PF e confirmou que trabalhava diretamente com Ramagem e que recebeu a missão de levantar informações sobre o caso investigado.

PF faz busca e apreensão em gabinete do deputado Alexandre Ramagem na Câmara dos Deputados
PF faz busca e apreensão em gabinete do deputado Alexandre Ramagem na Câmara dos Deputados – Gabriela Biló/Folhapress

Flávio Bolsonaro, por sua vez, teria sido beneficiado com a atuação da Abin para levantar informações contra auditores da Receita Federal.

O filho de Bolsonaro à época era investigado no caso da rachadinha da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) e tentou apontar para irregularidades na Receita como forma de anular a apuração.

Após uma reunião das advogadas de Flávio com Bolsonaro, agentes da Abin teriam produzido relatórios sobre com o senador deveria atuar para se livrar das investigações.

“Defender FB no caso ALERJ demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB”, trazia no título um dos relatórios produzido por integrantes da Abin.

No documento, encaminhado para a defesa de Flávio Bolsonaro por mensagem de aplicativo, eram apontados caminhos a serem seguido pelo senador para desmontar as acusações que pesavam contra ele.

Leia também   Bolsonaro entregará MP do auxílio emergencial pessoalmente ao Congresso

Em nota, Flávio Bolsonaro disse ser mentira que Abin tenha atuado para favorecê-lo. “Isso é um completo absurdo e mais uma tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”, afirmou.

A operação desta quinta (25) é a segunda fase da Última Milha, deflagrada em outubro de 2023 para apurar o uso do software espião FirstMile.

Com base em documentos apreendido na primeira fase e nas quebras de sigilo, a PF investiga se a Abin durante o governo Bolsonaro utilizou o software espião FirstMile e produziu relatórios sobre ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e políticos adversários do ex-presidente da República.

Entre alvos estariam os ministros do STF, Gilmar Mendes, e políticos como o atual ministro da Educação Camilo Santana (PT), então governador do Ceará. As autoridades teriam sido alvos de uma estrutura paralela dentro da Abin, integrada por policiais federais e oficiais de inteligência próximos ao então diretor da agência, Alexandre Ramagem.

Leia também   PGR é a favor de revogação do afastamento do governador do DF

Como mostrou a Folha, documentos em posse da Polícia Federal indicam que funcionários da Abin lotados no CIN utilizaram o software espião FirstMile durante o governo Bolsonaro —a ferramenta invadia a rede de telefonia nacional.

O CIN tem origem em um decreto de Bolsonaro, assinado em julho de 2020, que criou novas estruturas dentro do organograma da Abin, à época chefiada por Ramagem.

A justificativa para criação do CIN foi planejar e executar “atividades de inteligência” destinadas “ao enfrentamento de ameaças à segurança e à estabilidade do Estado” e assessorar órgãos competentes sobre “atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes de atividades criminosa”.

O centro foi desmontado pela reestruturação promovida pela atual direção da Abin, já no governo Lula (PT), após a operação da PF que mirou o software espião.

(Folha de São Paulo)

Read Previous

Consumo de combustíveis bate recorde em 2023, e etanol perde espaço para gasolina

Read Next

Vacina da dengue agrega outras estratégias de combate, diz ministério