Se existe uma classe trabalhadora no Brasil que merece ser aplaudida, ovacionada e reverenciada, é a dos profissionais da saúde. Não importa se é médico, enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem, auxiliar de serviços gerais, padioleiro, especialista em isso ou aquilo outro, plantonista ou supervisor, enfim, toda e qualquer função exercida para cuidar de um paciente, seja num hospital ou em um simples posto de saúde ou consultório. Ainda mais agora, com a pandemia do novo coronavírus Covid-19. As pessoas que atuam na área da saúde, em especial do setor público, aqui no Brasil, estão enfrentando o vírus mais por amor ao próximo e a profissão, pois sabem que se a situação se agravar, estaremos diante de um caos jamais visto em terras brasileiras.
Na última quarta-feira (18), a população voltou a se manifestar promovendo panelaços a favor e contra o governo do presidente Jair Bolsonaro. Afinal de contas, vivemos em uma democracia. O triste é ver que estão politizando a situação caótica que estamos vivendo. Agora, a mobilização nas redes sociais gira em torno de uma salva de aplausos aos profissionais da saúde nesta sexta-feira (20), às 20h30. Esse gesto em homenagem àqueles que estão nos hospitais encarando o coronavírus é mais do que válido, mas, na verdade, vamos copiar os europeus. O que deveríamos fazer mesmo era ir às ruas pedir mais reconhecimento e valorização a esses profissionais. Bater panela lá no Congresso, nas portas dos palácios e nos gabinetes. Isso sim é mostrar apoio a esses trabalhadores.
Hoje no Brasil quem não possui um bom plano de saúde tem que ir para a famosa fila. Segundo o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, 85% da população depende do SUS. A questão não se trata de ficar na fila esperando horas e horas. Não é que nos hospitais privados não tenha que esperar até mesmo horas para ser atendido, não é isso. Mas, em um hospital público, o profissional médico que está atendendo a fila, muitas vezes tem que sair correndo para ajudar o colega que está sozinho socorrendo um paciente que está grave na sala de cirurgia, e por aí vai. Ou seja, a fila no hospital privado anda e a do público, fica como está e quem quiser que espere ou morra.
Então, por que não tomamos as ruas e impomos às autoridades que nos governam que melhorem os nossos hospitais? Por que não reclamamos das condições dos trabalhadores da saúde? O que falta para nós brasileiros, que como diz o ditado “não desistimos nunca”, para criar coragem e defender essas pessoas que estão sujeitas ao vírus, bactérias e infecções diversas nas unidades de saúde? Infelizmente, não temos coragem para tanto. De repente, se a Europa, ou os norte-americanos ou qualquer outra nação promovesse tal mobilização, nós, brasileiros, faríamos e ainda tentaríamos aparecer nas redes sociais ou na TV.
É triste ter que assumir que vimos os nossos hospitais, centros de saúde, unidades básicas de saúde e postos de saúde, se deteriorem ao longo dos últimos anos. Nem as tais das unidades de pronto atendimento (UPAs), que surgiram recentemente, dão conta do recado. No Brasil, o sistema de saúde pública está falido faz muito tempo. O atual modelo não se sustenta. E a culpa não é do Bolsonaro, nem dos governadores e nem dos prefeitos, a culpa é nossa. Nós ficamos calados, e pelo visto, vamos continuar, pois se precisar de um atendimento médico em uma unidade de saúde pública, teremos a assistência que é possível naquele momento ou instante. Tudo isso, porque assistimos emudecidos os desvios de recursos que são destinados não só para a saúde, como para a educação, segurança e tantas outras coisas que o nosso país precisa.
Que o susto que estamos passando com o coronavírus, nos sirva de lição para que pensemos melhor e tenhamos a consciência que somos capazes de cobrar daqueles que nos governam para que façam a coisa certa. Vale lembrar que em outubro vamos às urnas e podemos fazer a diferença. Aos profissionais da saúde, fica aqui a nossa salva de aplausos e que elas ecoem além das janelas de nossas casas. Aos profissionais da saúde, fica aqui também o nosso pedido de desculpas, já que somos omissos em não nos mobilizarmos para exigir que eles tenham melhores salários e condições de trabalho.
* José Fernando Vilela é jornalista, radialista, blogueiro, filho, marido, pai e botafoguense.