O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou neste sábado (9) que não cederá territórios à Rússia em troca de paz, antes da cúpula marcada para sexta-feira (15) entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump, no Alasca. Kiev teme um possível acordo entre os Estados Unidos e a Rússia que possa ser desfavorável à Ucrânia.
A reunião faz parte dos esforços de Donald Trump para encontrar uma solução para a invasão russa da Ucrânia, iniciada em 2022. O encontro ocorrerá sem a presença de Zelensky.
“Qualquer decisão tomada contra nós, qualquer decisão tomada sem a Ucrânia, será uma decisão contra a paz”, alertou Zelensky nas redes sociais. “Os ucranianos não abandonarão sua terra aos ocupantes.” Atualmente, o Exército russo ocupa cerca de 20% do território ucraniano.
Em vez de ocorrer em território neutro, a reunião entre Putin e Trump será realizada no estado do Alasca, no extremo noroeste do continente americano, próximo à Rússia. A área foi cedida aos Estados Unidos no final do século XIX.
Durante uma conversa telefônica com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, neste sábado, Zelensky também pediu aos aliados europeus, excluídos das negociações, que tomem “medidas claras”.
O presidente ucraniano também conversou por telefone neste sábado com o presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a “situação diplomática” em torno da Ucrânia. “É realmente importante que os russos não consigam enganar ninguém mais uma vez”, escreveu em uma mensagem na rede Telegram.
Trocas de territórios
Para Donald Trump, a resolução da guerra passa necessariamente por concessões territoriais. Questionado sobre o assunto nesta sexta-feira (8), pouco antes do anúncio da cúpula, ele declarou que “haverá trocas de territórios que beneficiarão ambos os lados”, sem fornecer mais detalhes.
“Estamos falando de um território onde os combates ocorrem há mais de três anos e meio. É complicado”, acrescentou o presidente americano na Casa Branca, ao lado dos líderes do Azerbaijão e da Armênia, que acabavam de assinar um acordo de paz.
Trump, que prometeu diversas vezes encerrar o conflito na Ucrânia, conversou por telefone com o presidente russo várias vezes nos últimos meses, mas ainda não se encontrou pessoalmente com ele desde que tomou posse, em 20 de janeiro.
Esta reunião será a primeira entre os dois líderes desde junho de 2019, no Japão, um ano após a cúpula em Helsinque, onde Trump adotou um tom mais conciliador com Putin. O presidente russo, por sua vez, não visita os Estados Unidos desde 2015, durante o governo de Barack Obama.
Moscou exige que a Ucrânia ceda quatro regiões parcialmente ocupadas — Donetsk, Lugansk, Zaporíjia e Kherson — além da Crimeia, anexada em 2014, e que renuncie ao recebimento de armas ocidentais e à adesão à Otan.
Essas exigências são inaceitáveis para Kiev, que pede a retirada das tropas russas de seu território e garantias de segurança por parte do Ocidente, incluindo a continuidade do envio de armas e o possível envio de uma força europeia, o que a Rússia rejeita.
Reunião de última hora
O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, e o vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, vão liderar neste sábado uma reunião com conselheiros de segurança nacional europeus e americanos, informou o gabinete do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
A reunião será “uma oportunidade crucial para discutir os avanços necessários rumo a uma paz justa e duradoura” na Ucrânia, diz o comunicado.
“Os dois líderes elogiaram a disposição do presidente Trump de encerrar o conflito e concordaram que é preciso manter a pressão sobre Putin para que ele ponha fim à sua guerra ilegal”, acrescenta a nota. O texto lembra que o líder trabalhista “reitera seu apoio incondicional à Ucrânia e ao seu povo”.
O evento será organizado por David Lammy em sua residência oficial em Chevening, no condado de Kent, onde o vice-presidente americano JD Vance iniciou suas férias no Reino Unido na sexta-feira. Segundo fontes próximas ao governo britânico, as discussões devem durar o dia inteiro.
Avanço russo
Após mais de três anos de combates, Ucrânia e Rússia continuam com posições irreconciliáveis. No campo de batalha, os confrontos e bombardeios persistem, e o Exército russo segue avançando no leste.
No sábado, o Ministério da Defesa da Rússia anunciou a captura da localidade de Iablonivka, na região industrial e mineradora de Donetsk, onde se concentram os principais combates.
As forças russas, que aceleraram seus avanços nos últimos meses, ameaçam atualmente duas importantes fortalezas ucranianas no Donbass, Kupiansk e Kostiantynivka, além da cidade de Pokrovsk, ponto estratégico para a logística das tropas de Kiev.
Na região de Donetsk, quatro pessoas morreram no sábado em bombardeios russos, e outras duas foram mortas na região de Kherson (sul), segundo autoridades locais. Os ataques também deixaram cerca de 20 feridos.
Diante do avanço russo, a Ucrânia ordenou, na noite de sexta-feira, novas evacuações obrigatórias de famílias com crianças no leste. A medida afeta cerca de 20 localidades, após uma iniciativa semelhante no fim de julho.