O presidente da Rússia, Vladimir Putin, convocou na quarta-feira 300 mil reservistas para lutar na Ucrânia e disse que Moscou responderia com o poder de todo seu vasto arsenal se o Ocidente promover o que ele chamou de “chantagem nuclear” por causa do conflito.
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Foi a primeira mobilização deste tipo feita pela Rússia desde a Segunda Guerra Mundial e significa uma grande escalada da guerra, agora em seu sétimo mês.
Ela veio após recentes reveses para as forças russas, que foram expulsas de áreas que haviam capturado no nordeste da Ucrânia em uma contra-ofensiva ucraniana neste mês e se encontram atoladas no sul.
Em um discurso televisionado para a nação, Putin disse: “Se a integridade territorial de nosso país for ameaçada, usaremos todos os meios disponíveis para proteger nosso povo –isto não é um blefe”.
A Rússia tinha “muitas armas para responder”, disse ele.
O ministro da Defesa russo disse que a mobilização parcial implica na convocação de 300 mil reservistas e se aplicaria àqueles com experiência militar anterior.
Embora a Rússia tenha estado envolvida em vários conflitos desde a Segunda Guerra Mundial, esta foi a primeira convocação deste tipo desde então. A longa guerra da União Soviética no Afeganistão envolveu recrutas.
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, disse que 5.937 soldados russos foram mortos desde o início do conflito.
Os Estados Unidos disseram no mês passado que acreditavam que entre 70 mil e 80 mil soldados russos haviam sido mortos ou feridos, e em julho estimaram o número de mortos da Rússia em cerca de 15 mil.
O conselheiro presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak disse que a mobilização russa era um passo previsível que se revelaria extremamente impopular, e ressaltou que a guerra não estava indo de acordo com o plano de Moscou.
“Um apelo absolutamente previsível, que parece mais uma tentativa de justificar seu próprio fracasso”, disse Podolyak à Reuters. “A guerra claramente não está indo de acordo com o cenário da Rússia.”
Antes do discurso de Putin, líderes mundiais reunidos na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York denunciaram a invasão russa da Ucrânia e planos para quatro regiões ocupadas para realizar referendos nos próximos dias para adesão à Rússia.
Em uma ação aparentemente coordenada, os líderes regionais pró-russos anunciaram na terça-feira os referendos para entre os dias 23 e 27 de setembro nas províncias de Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia, que representam cerca de 15% do território ucraniano.
A Rússia já considera Luhansk e Donetsk, que juntos formam a região de Donbas que Moscou ocupou parcialmente em 2014, como Estados independentes. A Ucrânia e o Ocidente consideram todas as partes da Ucrânia mantidas pelas forças russas como ilegalmente ocupadas.
A Rússia detém agora cerca de 60% de Donetsk e havia capturado quase toda Luhansk até julho, após avanços lentos durante meses de intensos combates
Esses ganhos estão agora sob ameaça depois que as forças russas foram expulsas da vizinha província de Kharkiv este mês, perdendo o controle de suas principais linhas de abastecimento para grande parte da linha de frente de Donetsk e Luhansk.
Em seu discurso, Putin disse que a mobilização parcial de seus 2 milhões de reservistas militares visa defender a Rússia e seus territórios. O Ocidente não quer a paz na Ucrânia, disse ele.
Ele disse que Washington, Londres e Bruxelas estão pressionando Kiev a “transferir operações militares para nosso território” com o objetivo de “pilhar completamente nosso país”.
Os militares da Ucrânia atingiram esporadicamente alvos dentro da Rússia durante todo o conflito, utilizando armas de longo alcance fornecidas pelo Ocidente.
“A chantagem nuclear também tem sido usada”, disse Putin, citando a usina nuclear de Zaporozhzhia, na Ucrânia, a maior da Europa. Tanto a Rússia quanto a Ucrânia se acusaram mutuamente de colocar a usina em perigo durante os combates.
Putin acusou funcionários dos países da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de fazer declarações sobre “a possibilidade e admissibilidade do uso de armas de destruição em massa contra a Rússia —armas nucleares“.
“Aos que se permitem tais declarações a respeito da Rússia, quero lembrar que nosso país também possui diversos meios de destruição, e alguns componentes mais modernos do que os dos países da Otan”, disse.
Putin reafirmou que seu objetivo é “libertar” Donbas, o coração industrial da Ucrânia, e disse que a maioria das pessoas lá não quer voltar ao que ele chamou de “jugo” da Ucrânia.
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, falando à Assembleia-Geral da ONU em Nova York, disse que Putin só desistirá de suas “ambições imperiais” se ele reconhecer que não pode vencer a guerra.
“É por isso que não aceitaremos nenhuma paz ditada pela Rússia e é por isso que a Ucrânia deve ser capaz de se defender do ataque da Rússia”, disse Scholz.
A oposição da Rússia convocou protestos contra Putin pelo que Alexei Navalny, inimigo do Kremlin, disse ser uma guerra criminosa fracassada. “Está claro que a guerra criminosa está piorando, se aprofundando, e Putin está tentando envolver o maior número possível de pessoas nisso”, disse Navalny em uma mensagem de vídeo da prisão gravada e publicada por seus advogados.
Repercussão mundial
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou a Rússia nesta quarta-feira, 21, de violar os princípios fundamentais da filiação à Organização das Nações Unidas (ONU) ao invadir a Ucrânia e disse que Moscou está fazendo ameaças “irresponsáveis” de usar armas nucleares.
Discursando na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, Biden criticou o presidente russo, Vladimir Putin, por iniciar uma guerra não provocada que cerca de 40 membros da ONU estão ajudando a Ucrânia a combater com financiamento e armas.
“Um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas invadiu seu vizinho, tentou apagar um Estado soberano do mapa. A Rússia violou descaradamente os princípios fundamentais da Carta das Nações Unidas”, disse Biden.
Os Estados membros da União Europeia também estão discutindo que ações conjuntas podem tomar em resposta a esse novo desdobramento da guerra.
“Os Estados membros da UE já realizaram uma reunião de coordenação em que foram feitas discussões em termos de uma resposta da UE à continuação da guerra de agressão contra a Ucrânia”, disse Peter Stano, o porta-voz da Comissão Europeia.
“Isso inclui todos os aspectos da agressão, os crimes que foram cometidos, os referendos, as descobertas de locais de sepultamento em massa”, ressaltou, em entrevista coletiva. Por enquanto, não há anúncios de novas sanções que podem ser feitas à Rússica.
(Reuters)