O ingresso já indica as regras e protocolos seguidos para a prevenção do coronavírus: aferição de temperatura no acesso e obrigatoriedade de ficar dentro do carro durante toda a peça de teatro no estilo drive-in. A saída só é permitida, naturalmente, para idas ao banheiro. Os vidros podem ficar abertos.
O evento é uma peça com o elenco original de personagens conhecidos pelo público infantil, os Detetives do Prédio Azul. Seria algo tradicional, não fosse o local: o Allianz Parque, estádio de futebol localizado na zona oeste de São Paulo. O estádio vem promovendo shows e até TEDx no formato drive-in em seu “Arena Sessions”.
Cada carro pode comportar até quatro pessoas (o ingresso é por carro, e foram vendidos por cerca de R$ 250), e cada vaga tem de ficar a dois metros de distância dos outros veículos participantes do evento. Em cada vaga há duas caixas de som posicionadas em cada lado das janelas do veículo, e barras dividem as vagas.
Ao lado também fica o QR Code em parceria com o iFood, utilizado para realizar pedidos de refeições e bebidas durante o evento. O pedido, feito por um parceiro do evento, que tem no menu lanches vendidos a preços mais altos, como em qualquer show, vem rápido e é entregue por um colaborador da plataforma, como se fosse um delivery comum. Na hora de pedir pelo app, o número da vaga aparece automaticamente.
Além do palco, que só pode ser visto com nitidez por duas fileiras de carros, o evento é transmitido por dois telões: um maior e colocado logo acima do palco, com visão melhor no setor premium, e outro menor, posicionado no teto da arena, usado para os setores mais afastados e econômicos. Se você não der o azar de ter um carro grande na sua frente, é possível ver todo o palco.
E se chover? O palco fica em uma área coberta. Para o público, basta fechar os vidros e ouvir pelo áudio do carro, liberado por rádio-frequencia. A rádio é informada durante o evento.
Algumas luzes posicionadas nas arquibancadas e abaixo da transmissão ajudam a provocar mais efeito e interações com o público. Na tela, também aparecem, de tempos em tempos, algumas interações eletrônicas. Mas poucas, para não virar cinema ou show: ainda estamos falando de teatro. O cenário é trocado por ao menos três vezes na peça de cerca de uma hora.
Mas ares de musical são necessários para engajar a platéia distante, principalmente nas diversas músicas tocadas e cantadas pelos personagens. A interação pedida? A única possível: buzinem! O barulho é ensurdecedor, mas as crianças parecem gostar.
Todos os atores usam uma máscara de acrílico durante todo o espetáculo. Quando passam objetos para o outro, utilizam um spray para desinfetá-los, da forma mais espontânea que conseguem. Também seguem, sempre que possível, um distanciamento claro no palco. A tradicional junção de mãos dos amigos detetives é apenas simulada: cada um fica no seu quadrado.
Os sete personagens que dividem o palco, além da equipe técnica, realizam o teste do vírus antes e depois de cada apresentação.
Para crianças mais agitadas, o espaço no carro não é tão ruim como o de um assento de teatro, e é possível acompanhar a peça até com o banco deitado.
Uma coisa é certa: com carros, a organização de acesso e saída do evento é fácilitada. Não há filas ou esperas. Basta seguir o fluxo.
Surge a dúvida: com toda essa organização, é possível se divertir? Diante do panorama de ficar com crianças pequenas em casas por meses, os pais estão tentando.
Em São Paulo, os ingressos se esgotaram e o evento teve de abrir sessões extras, também esgotadas. Foram duas sessões às 14h e às 17h30 no dia 18 de julho, e mais três extras neste sábado, dia 25, às 14h, 17h30 e 21h.
A produção da peça em São Paulo foi pega no contrapé: era para o evento ter sido encenado no teatro Procópio Ferreira em março, mas foi atropelado pela pandemia. Quem já tinha comprado ingressos para a temporada pode trocá-los. Por enquanto, a atividade do teatro continua suspensa na cidade.
Agora, o evento, que tem apoio do Ministério da Cidadania e é patrocinado pela Brasilprev, será encenado em Curitiba e Porto Alegre em setembro. Nessas cidades, será apresentado em um auditório e em um teatro, respectivamente.
Apesar de todas as dificuldades e peculiaridades de um evento como esse, a atriz Claudia Netto, que faz a personagem Dona Leocádia, encerrou a peça drive-in dizendo que até se emociona de poder continuar a atuar nesses tempos. “O teatro resiste”, concluiu.
(Portal Exame)