• 02/10/2025

Renata, 29ª vítima de feminicídio neste ano, vivia rotina de agressões


O Distrito Federal registrou mais um feminicídio, chegando a 29 casos este ano, conforme levantamento. O número supera os 12 meses de 2018, quando houve 28 mulheres mortas por questões de gênero. Este é o número mais alto desde que a Lei do Feminicídioentrou em vigor, em 2015. O caso mais recente ocorreu na noite de sexta-feira. A dona de casa Renata Alves dos Santos, 29 anos, foi assassinada. O companheiro, o entregador Edson dos Santos Justiniano Gomes, 43, é o principal suspeito, segundo a Polícia Civil do DF. Investigação aponta que ele espancou a mulher, em frente à mãe dela. Ele foi preso.

Conforme apuração da 30ª Delegacia de Polícia (São Sebastião), Edson e Renata tinham saído mais cedo de casa, localizada na Rua 8 da Quadra 19 do Núcleo Rural Morro da Cruz, para irem a um bar da região. Eles ficaram no local até a noite, quando decidiram retornar para a residência, onde estava a mãe da vítima, Judite Alves dos Santos, 68.

O delegado Rosenilton Garcia explicou que a idosa não conseguiu identificar o motivo da discussão. “Ela nos relatou que Renata e Edson estavam alterados e, por isso, não pôde precisar como começou a briga. Contudo, ela nos disse que, durante o desentendimento, os dois se agrediram. A mãe da jovem tentou impedir o crime, mas, por ser idosa, não teve forças. Edson deu socos na testa e no rosto da vítima, que caiu desmaiada. Sem que a mulher tivesse qualquer chance de defesa, o homem a agarrou pelas orelhas e bateu com a cabeça dela inúmeras vezes na mesa de mármore”, contou.

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Renata foi deixada no chão da sala e a mãe tentou reanimá-la, jogando água. Apesar dos esforços, a vítima não reagiu. Em meio ao desespero, Edson ainda teria ameaçado Judite de morte. “Em depoimento na delegacia, a mãe de Renata nos disse que o genro afirmou que, se ela contasse o que ele tinha feito, a idosa teria o mesmo fim da filha. Por isso, a mãe tentou manter a calma. Só quando Edson acabou cochilando, próximo ao corpo da companheira, foi que Judite conseguiu sair para pedir ajuda”, relatou Garcia.

Judite saiu pelo portão da casa, que dá acesso a uma rua de terra batida. Desesperada, ela subiu a rua e conseguiu encontrar um vizinho, acompanhado de um colega. O homem, de 42 anos, relatou que a idosa alegou que Renata tinha sofrido um acidente. “Ela disse que a filha tinha brigado com o Edson e, nisso, batido a cabeça e desmaiado. De primeiro, achei estranha a história. Meu colega não queria que eu fosse ao local, por causa da situação. Mas disse que tinha uma vida em risco e não viraria as costas”, disse o auxiliar de serviços gerais, que pediu anonimato.

O vizinho entrou na residência e encontrou Renata no chão. Edson já estava em pé, do outro lado da mesa. “Quando eu vi a mulher, notei que não tinha o que ser feito. Judite ainda acreditava que a filha estivesse viva. Eu me aproximei e toquei no pulso de Renata, mas não tinha sinais vitais e ela estava fria. Foi quando disse que precisávamos chamar os bombeiros”, relembrou.

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Socorristas do Corpo de Bombeiros chegaram à residência e confirmaram a morte da jovem. Durante o atendimento, os profissionais notaram sinais de violência no corpo da mulher e impediram Edson de deixar o local. A Polícia Militar chegou na casa às 22h10 e prendeu o companheiro de Renata em flagrante por feminicídio. Ele, Judite e o vizinho foram levados até a 30ª DP.

De acordo com o delegado Rosenilton Garcia, o suspeito não conseguiu falar sobre o caso. “Após escutarmos Judite e o vizinho, fomos chamar o Edson. Ele estava muito embriagado e entrou em um sono profundo. Fizemos de tudo para acordá-lo, mas não foi possível. Como tínhamos elementos que comprovaram o feminicídio, representamos pela prisão preventiva dele, a qual deverá ser analisada em audiência de custódia”, frisou.

Brigas

Edson Gomes e Renata dos Santos estavam juntos havia pouco mais de um ano. Durante a união, viveram em São Sebastião e, no começo do ano, alugaram a casa no Núcleo Rural Morro da Cruz, também na cidade. Relato de um familiar e dois boletins registrados na 30ª DP indicam um relacionamento conturbado, com brigas constantes. As motivações dos desentendimentos eram os ciúmes que o entregador sentia da companheira.

O tio da vítima, o aposentado Sílvio Alves Santos, 64, contou que Renata tinha sido agredida por Edson durante todo o casamento. “Ele chegou a enforcá-la algumas vezes e tentávamos intervir para o fim do relacionamento, mas não adiantava. Por vários momentos falávamos que essas brigas acabariam em uma tragédia, mas nem ele ou a minha sobrinha escutavam os conselhos”, argumentou.

Edson tem dois boletins de ocorrência registrados na 30ª DP, os quais indicam Renata como vítima. Entretanto, o delegado Rosenilton Garcia destacou que os casos chegaram à unidade policial por intermédio de terceiros, não por iniciativa da vítima. Ela não chegou a pedir medidas protetivas em nenhuma ocasião.

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Em 20 de janeiro deste ano, a dona de casa chegou na delegacia com as costas queimadas. “Eles tinham brigado e, então, ela saiu gritando da residência, pegando fogo. A Renata conseguiu ser socorrida, mas chegou a ficar com as marcas”, contou o vizinho, em anonimato. Contudo, quando a jovem deu a versão dela aos investigadores da Polícia Civil, disse que tinha sofrido um acidente, como explicou o delegado Garcia.

“Ela narrou que estava bebendo com o companheiro e eles acabaram discutindo. Em meio à briga, Renata disse ter se molhado com álcool e, no momento em que foi fumar, o calor do cigarro teria ocasionado o fogo. A versão foi mantida por Edson e, por isso, a ocorrência ficou apenas como em apuração”, salientou o investigador.

Em 22 de setembro, o casal parou novamente na polícia. Dessa vez, Edson teria agredido Renata com murros. “Ela correu até a casa de uma amiga, onde pediu ajuda. Mas ela dificultou todo o processo da ocorrência, alegando que não queria fazer nada contra o companheiro, que era quem a ajudava. Ela chegou a fugir da delegacia antes que a encaminhássemos para o exame de corpo de delito no Instituto de Medicina Legal. As provas anexadas ao processo foram as fotos tiradas na delegacia”, acrescentou Garcia.

(Correioweb)

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