Detalhes do inquérito policial que apura o feminicídio de Noélia Rodrigues de Oliveira, 38 anos, revelam com precisão os últimos passos da vítima e do homem apontado pelos investigadores como o autor do crime. A hora e os locais por onde passou Almir Evaristo Ribeiro foram confirmados pelos policiais com a ajuda de sistemas do Departamento de Trânsito (Detran) e serviram para embasar a conversão da prisão do suspeito de temporária para preventiva.
As provas, segundo o relatório final da 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires), não deixam dúvidas de que o operador de máquinas pesadas que era vizinho da vítima executou a vendedora com um tiro no olho, na noite de 17 de outubro, em um terreno baldio no Assentamento 26 de Setembro.
De acordo com o inquérito, Noélia foi trabalhar normalmente, como sempre fazia, em uma loja no Brasília Shopping, na Asa Norte. Pouco antes de encerrar o expediente, por volta das 22h, a vítima ligou para o marido, Marcos Paulo Mendes Santana, para informar que estava finalizando a jornada de trabalho.
Imagens captadas por câmeras de segurança registraram que a vendedora estava em frente ao McDonald’s localizado às margens da via N1, em frente à Torre de TV, às 22h08, quando Noélia embarcou em um veículo. Às 22h24, o celular dela perdeu o sinal. O cadáver da vendedora foi encontrado apenas no dia seguinte, às 11h47, em um local conhecido como Cana do Reino.
Ao longo das apurações, os investigadores identificaram que o carro dirigido por Almir, um Chevrolet Cruze, foi visto se deslocando em circunstâncias de tempo e local compatíveis com o desaparecimento da vítima. Segundo informações obtidas por sistemas do Detran, na noite de 17 de outubro, entre as 20h28 e as 20h30, o veículo foi localizado circulando pela Via Estrutural no sentido Ceilândia–Plano Piloto.
Duas horas depois, entre 22h18 e 22h23, o Cruze foi flagrado novamente, desta vez fazendo o trajeto de volta pela mesma Via Estrutural, então no sentido Plano Piloto–Ceilândia.
De acordo com depoimento de uma mulher que trabalhava com Noélia, na noite do crime ela convidou a amiga para irem embora juntas, mas a vítima recusou, afirmando que voltaria para casa de carona.
“Segundo a testemunha, a vítima apresentava comportamento irritadiço e constantemente olhava o celular. Além disso, há filmagens indicando que a vítima embarcou num veículo por volta de 22h08, horário compatível com o deslocamento do investigado para a região onde Noélia trabalhava”, aponta o inquérito.
O crime
Noélia foi encontrada morta no Assentamento 26 de Setembro, em Vicente Pires. De acordo com peritos do Instituto de Criminalística (IC) que analisaram o local onde o crime ocorreu, a vendedora levou um tiro à queima-roupa no rosto.
No início das apurações, o Metrópoles teve acesso a informações que faziam parte do laudo preliminar sobre o feminicídio e havia adiantado que o disparo feito próximo à face de Noélia indicara que ela poderia estar dentro de um veículo, supostamente usado pelo autor do crime – o que se confirmou posteriormente.
O corpo de Noélia foi encontrado no dia seguinte ao desaparecimento. O enterro foi realizado em 20 de outubro. Ela tinha três filhos: dois meninos, de 16 e 5 anos, e uma garota, de 9. Noélia era a caçula de 14 irmãos. Um deles, Odemar Oliveira Guedes, 42, veio do Tocantins para o enterro.
“Meus pais moram no Ceará e não puderam vir pela idade. Só Deus sabe o que estão passando. Queremos que as autoridades tomem providências. Minha irmã era muito trabalhadora”, desabafou. “Só Deus sabe o que estamos sentindo. Espero que a justiça seja feita, a de Deus e a do homem”, disse Odemar à época.
Em 24 de outubro, a Polícia Civil prendeu Almir. Os agentes também cumpriram mandados de busca e apreensão na casa dele, que fica em frente à residência de Noélia. O suspeito deverá permanecer detido até o julgamento. Preso preventivamente, ele está encarcerado no Centro de Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda.
(Metrópoles)