Por Portal Exame
Diante de um cenário de 62,2 milhões de brasileiros inadimplentes, 14,4 milhões de desempregados e perspectiva de inflação a 7,90% para este ano, o aumento do imposto sobre operações financeiras (IOF) anunciado pelo governo Bolsonaro vai encarecer ainda mais o crédito para pessoas físicas, que vai passar de 3% ao ano para 4,08% a.a. até dezembro.
Veja também
Novo Bolsa Família depende de IOF, IR e precatórios, diz secretário
Para o economista Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor-executivo da Associação Nacional de Executivos de Finanças (Anefac), o aumento do IOF foi uma “péssima” decisão, porque agrava o cenário econômico já adverso e não resolve o problema do governo.
“É uma medida péssima porque encarece o crédito num momento em que o endividamento está muito elevado e os juros já subiram nos últimos sete meses. E vão subir de novo na próxima reunião do Copom e a projeções de crescimento do país só caem, já se fala em zero para o ano que vem”, diz o economista.
Segundo ele, esse aumento só agrava esse quadro, porque crédito mais caro significa custo para as empresas, que vão “repassar aos preços e aumentar ainda mais a inflação”.
Para ter uma ideia, na compra de uma geladeira no valor de 2.500 reais em 12 meses com juros a 4,5% ao mês, o IOF que incidiria antes seria de 84,33 reais, mas agora vai passar para 111,52 reais. Desta forma, o consumidor que antes pagaria 12 parcelas mensais de 283,41 reais, chegando ao valor final de 3.400,92 reais, agora vai pagar 12 parcelas mensais de 286,40 reais totalizando o valor de 3.436,80 reais.
No empréstimo pessoal no valor de 5.000 reais em 12 meses com uma taxa de juros de 4,5% ao mês, o consumidor desembolsaria 168,65 reais de IOF, mas agora terá que pagar 223,04 reais.
“Assim sendo, antes ele pagaria 12 parcelas mensais de 566,83 reais (totalizando 6.801,96 reais) e agora vai pagar 12 parcelas mensais de 572,79 reais, totalizando 6.873,48 reais”, exemplifica o economista.
Os clientes de bancos que utilizam cheque especial também vão sentir o peso no bolso: o IOF sobre o uso do cheque especial no valor de 3.000 reais por 20 dias com taxa de juro de 8% ao mês, por exemplo, vai subir de 16,32 reais para 18,11 reais.
“O cliente que antes pagava no período um total (juros + IOF) de 160,87 reais e agora vai pagar um total (juros + IOF) de 160,97 reais”, explica o executivo da Anefac.
Empresas
É importante destacar que esse aumento, que vai garantir uma arrecadação adicional de 2,14 bilhões de reais aos cofres do governo para bancar o novo Bolsa Família, também vai impactar negativamente o crédito das empresas. A alíquota diária do IOF subirá de 0,0041% (o equivalente a uma taxa anual de 1,5%) para 0,00559% (2,04% no ano).
Por exemplo, um capital de giro no valor de 50.000 reais com uma taxa de juro de 1,50% ao mês a ser liquidado em 12 parcelas mensais, o empresário pagaria 12 parcelas mensais de 4.652,76 reais. O financiamento seria quitado com 55.833,12 reais.
“Já com o novo imposto [2,04% ao ano] ele pagará 12 parcelas mensais de 4.677,51 reais e no final do contrato terá desembolsado 56.130,12 reais”, informa Miguel Ribeiro.
Confira as simulações
-
Pessoa física
Financiamento no valor de 30.000,00 reais de automóvel com taxa de juro de 1,45% ao mês.
Com IOF de 3% ao ano
Pagaria 12 parcelas mensais de 2.824,10 reais
Total: 33.889,20 reais
Com IOF de 4,08% ao ano
Pagaria 12 parcelas mensais de 2.853,71 reais
Total: 34.244,52 reais
-
Pessoa jurídica
Capital de giro no valor de 50.000,00 reais com uma taxa de juro de 1,50% ao mês a ser liquidado em 12 parcelas mensais.
Com IOF de 1,5% ao ano
Pagaria 12 parcelas mensais de 4.652,76 reais
Total: 55.833,12 reais
Com IOF de 2,04% ao ano
Pagaria 12 parcelas mensais de 4.677,51 reais
Total: 56.130,12 reais