Das cinco escolas que fizeram, neste sábado (17/08/2019), votação para aderir à gestão compartilhada com a Polícia Militar, três aprovaram o novo modelo de administração e duas recusaram. As comunidades escolares dos CEF 1 do Núcleo Bandeirante, CED 1 do Itapoã e CEF 19 de Taguatinga disseram sim ao novo modelo de gestão. Já no CEF 407 de Samambaia e no Gisno, Asa Norte, o não prevaleceu. Os resultados foram divulgados na madrugada deste somingo (18/08/2019) pela Secretaria de Educação.
No Centro de Ensino Fundamental 1 do Núcleo Bandeirante, foram 253 votos favoráveis, que representaram 53,97% do total, e 185 contrários ao modelo. O resultado no CED 1 do Itapoã foi mais elástico: dos 378 votos, 67% aprovaram o projeto e 33% recusaram.
A comunidade escolar vinculada ao CEF 19, de Taguatinga, também demonstrou entusiasmo com o novo tipo de administração: 70,79% dos votantes disseram sim, enquanto 29,21% se manifestaram de forma contrária.
No Centro de Ensino de Samambaia, o placar foi 58,49% para a não adoção, enquanto 41,38% dos pais, professores, funcionários e alunos optaram para sim.
No Gisno, os votos pelo não somaram 57,66%; o sim, 42,33%. Na segunda-feira, ainda haverá conferência do quórum de votantes do segmento pais, responsáveis e estudantes. É necessário que 10% deles tenham participado. No entanto, a lista de pessoas desse segmento aptas a votar não foi feita no modelo para pleito. Se os pais têm mais de um filho na escola, por exemplo, podem ter figurado mais de uma vez na lista, enquanto o correto para aferição do quorum é constar apenas uma vez.
No último dia 10, a gestão compartilhada foi aprovada pelo CED Estância III de Planaltina. Ao todo, essas escolas atendem mais de seis mil estudantes, que irão se unir agora a outros sete mil, que entraram no programa no primeiro semestre, totalizando mais de 13 mil beneficiados.
A derrota em Samambaia surpreendeu a Secretaria de Educação. Nos próximos dias, a pasta vai anunciar duas novas escolas às quais serão oferecidas o novo modelo de gestão em função da recusa do CEF 407 de Samambaia e do Gisno, Asa Norte. Já nas escolas que aprovaram o novo modelo, a expectativa é que o sistema comece a funcionar em cerca de duas semanas.
Na avaliação do Sindicato dos Professores (Sinpro), o governo precisa investir na educação com reconstruções e reformas de muitas escolas, em laboratórios, bibliotecas, reduzir o número de alunos em sala de aula, nomeações de professores e demais profissionais da educação. “Militares nas escolas somente através do Batalhão Escolar, no portão, para garantir a segurança de todos”, ressalta a entidade.
Votação no sábado
Estudantes maiores de 13 anos com frequência acima de 50%, pais, mães, responsáveis, professores efetivos e temporários, além de servidores da carreira de Assistência à Educação, puderam participar da votação que ocorreu das 8h às 21h, mediante apresentação de documento de identificação com foto.
Opiniões
No CEF 19, na QNL, em Taguatinga, a votação foi tranquila, embora o projeto ainda divida opiniões. Enquanto os pais aguardavam na fila que se formava em frente à sala de aula e comemoravam a medida, um grupo de representantes do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF) se reuniu em frente ao local de votação para garantir a “lisura do processo”.
Segundo a diretora do Sinpro-DF, Elineide Rodrigues, a categoria concorda que o ambiente escolar precisa de mais segurança, mas não acredita que o projeto, da forma como está, possa seguir sem interferências pedagógicas.
“Não houve debate com a comunidade. Temos feitos visitas às unidades onde a metodologia já está funcionando e o que constatamos foram alunos acuados com a presença dos militares, além de experiências mal sucedidas”, pontuou. A professora se refere às denúncias de policiais que entraram em confronto com alunas, além de supostos casos de assédio.
Alguns pais, no entanto, acreditam que com o tempo todos vão se acostumar e os alunos terão mais segurança. Essa, pelo menos, é a expectativa de Antônio Silva de Andrade, pai de uma aluna de 11 anos. “Toda vez que ela vai para a escola, só ficamos tranquilos quando ela retorna para dentro de casa. Com a Polícia Militar dentro dos portões, temos uma sensação maior de segurança”, disse.
Gisno
Representantes do Sinpro-DF e integrantes da Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto protagonizaram confusão no Centro Educacional (CED) Gisno, na Asa Norte. Segundo o sindicato, os servidores da seccional colocaram cartazes e distribuíram panfletos a favor da gestão compartilhada durante o pleito, o que configura, de acordo com a entidade, boca de urna, além de ferir a norma de Gestão Democrática, adotada para a votação.
“Os debates já foram realizados, hoje é o dia da comunidade escolar decidir. Não tem cabimento um representante da Secretaria de Educação se prestar a convencer os pais enquanto estão na fila pra votar”, disse o porta-voz do Sinpro-DF, Claudio Antunes. Os materiais foram retirados após a chegada de policiais militares.
De acordo com a Coordenação Regional de Ensino do Plano Piloto, não houve boca de urna. “Trata-se de sobra de material de esclarecimento distribuído durante a semana e que não foi entregue hoje”, acrescentou.
Divergências em família
A maioria dos alunos ouvidos neste sábado discorda que levar forças de segurança auxiliares para dentro da sala de aula seja uma solução. Em Samambaia, a família Carvalho ainda não entrou em consenso. Enquanto os pais e o irmão mais velho de Ludmilla, Camila e Letícia defendem a presença dos militares, as estudantes votaram contra a medida. “A escola não tem nenhuma estrutura e não concordamos que esse seja o investimento mais urgente. Além disso, precisa haver um consenso. Os professores e alunos não se sentem à vontade”, comentou Letícia.
O irmão mais velho das estudantes, Marcus Vinicius Carvalho, também frequentou o CEF 407, há 15 anos, e acredita que a medida é fundamental para mudar o cenário de violência em que as escolas da Região Administrativa estão inseridas. “Já estudei aqui e sei como o crime organizado está presente na escola. A alternativa é testar, depois, se não der certo, tira”, opinou.
O pai, Waldemar Carvalho, concorda com o filho, mas criticou o regulamento do plebiscito. Isso porque, apesar de terem ido em família, apenas um dos responsáveis pode votar, independentemente da quantidade de filhos matriculados na escola. “Achei injusto”.
Segundo as regras do plebiscito, a família Carvalho só teria direito a mais um voto caso uma das filhas estudassem em outra unidade de ensino onde a votação está sendo realizada ou se um dos pais também trabalhasse na rede pública de ensino.
No CED 01 do Itapoã, a presença dos militares é demanda de integrantes da comunidade escolar, que, durante a votação, reclamaram de constantes assaltos e episódios de violência nas proximidades da escola. “A princípio, eu não era a favor, mas ouvi muitas pessoas e votei favorável. A violência é tão presente que os professores não conseguem fazer o próprio trabalho”, pontuou Gislaine Gomes, mãe de uma aluna do sexto ano.
O Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Itapoã acompanhou a votação e tirou dúvidas de pais e responsáveis. “Alguns acham que a Polícia Militar vai agir com truculência com os alunos, o que não é verdade. A intenção é promover ambiente mais seguro e com disciplina ”, defendeu o presidente do Conseg, Alessandro dos Santos.
Pesquisa
A gestão compartilhada é uma parceria entre as secretarias de Educação e de Segurança. A parte pedagógica permanece a cargo dos professores, dos diretores e dos orientadores. A segurança, incluindo a entrada e a saída dos estudantes, fica com a Polícia Militar, que também trabalha no dia a dia dos estudantes conceitos de ética e de cidadania, além de promoverem atividades esportivas e musicais no contraturno.
Em junho, a Secretaria de Segurança Pública divulgou pesquisa realizada com 1,2 mil pessoas, sendo 962 estudantes. O balanço aponta que 75% dos professores entrevistados querem que os militares permaneçam nas escolas em que o modelo funciona. Do total, metade dos alunos e 86,9% dos servidores se mostraram a favor.
Quanto à sensação de segurança, quase 90% dos estudantes avaliaram o ambiente escolar como seguro (53,3%) ou muito seguro (36,5%). Nesse mesmo quesito, 88,8% dos professores e 98,8% dos servidores têm a mesma impressão.
De acordo com balanço da Secretaria de Educação, 55,21% dos professores entrevistados acreditam que o novo modelo “tornou as escolas um lugar melhor para se trabalhar”, e 75,6% dos educadores querem que os militares permaneçam.
Apesar de a medida ser amplamente aprovada por pais, alunos e docentes, também há posicionamentos contrários. Parlamentares, professores e entidades ligadas à pauta educacional elaboraram uma carta aberta contra a proposta de gestão compartilhada das escolas públicas do Distrito Federal.
O documento foi idealizado pelo Observatório da Militarização das Escolas, instituído no âmbito da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa, e recebeu apoio da Universidade de Brasília, do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF), da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Já entre os deputados distritais, Fábio Felix (Psol), Arlete Sampaio (PT), Chico Vigilante (PT), Leandro Grass (Rede), Reginaldo Veras (PDT) e a deputada federal Erika Kokay (PT) assinam a iniciativa.
Fonte:Metrópoles