Um estudo publicado por uma pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB) mostrou que as mulheres que moram no Distrito Federal sentem um “medo moderado” ao caminhar a pé pelas ruas da capital.
Segundo a autora, Adriana Souza, isso significa “um caminhar com receios e desconfortos de dia e de noite” e faz com que as mulheres tenham de criar estratégias para conseguir caminhar com segurança.
O trabalho de Adriana Souza foi aprovado como tese de doutorado em transportes. Por meio de questionários respondidos por mulheres de Brasília e Lisboa, ela criou um “índice de caminhabilidade do medo” nas duas cidades, variando de 0 a 1, e o dividiu em cinco categorias:
* Ausência de medo (até 0,20)
* Medo leve (de 0,21 a 0,40)
* Medo moderado (de 0,41 a 0,60)
* Medo intenso (de 0,61 a 0,80)
* Medo extremo/Pânico (de 0,81 a 1,00)
O indicador considera três fatores: infraestrutura, segurança pública e socioculturais. Para o cálculo, foram utilizadas 516 respostas de mulheres (233 de Brasília e 283 de Lisboa).
Brasília registrou média de 0,41 – portanto, medo moderado. Segundo a pesquisa, isso significa que “as mulheres precisam criar estratégias para exercerem o direito de se deslocar a pé pelos espaços públicos”. Entre as entrevistadas, 78% disseram ter medo de caminhar no DF.
Lisboa marcou 0,34, ficando na categoria medo leve. Assim, “os três fatores apresentam deficiências, mas não são impeditivos para o exercício do direito de ir e vir”. Na capital de Portugal, 30% das mulheres temem caminhar sozinhas na rua.
Os maiores problemas
Na pesquisa, Adriana Souza descobriu que os maiores medos das mulheres se repetiram nas duas cidades:
* Infraestrutura: falta de iluminação pública
* Segurança pública: medo de estupro
* Fator sociocultural: encontrar homens desconhecidos
“Se a gente juntar os fatores, está lidando com uma mesma questão. Talvez seja nossa questão sociocultural de lidar com as mulheres de uma forma que elas sempre estão no lugar mais vulnerável”, diz Souza.
“Falta mulher inclusive na execução e no planejamento desses projetos, falta a voz da mulher, a especificidade da mulher ao se deslocar a pé pelas cidades.”
Na conclusão da tese, a pesquisadora recomendou 11 estratégias governamentais para diminuir o problema. Entre elas, a implementação de cotas de gênero nas empresas do ramo de transporte e a inclusão da questão sociocultural de gênero dentro dos currículos dos programas acadêmicos que abordem estudos sobre transportes no Brasil.
A arquiteta Julia Mazzutti, por exemplo, diz sempre sair de casa em estado de alerta. “A questão de não ter carro particular, somada à questão de ser mulher, cria uma situação de alerta constante”, afirma.
“Eu saio sempre olhando, talvez procurando trajetos mais longos, mas que tenham mais iluminação, mais movimento.”
Fonte: G1