O início do último trimestre do ano e a aproximação de datas importantes para o comércio geram expectativas positivas ao setor produtivo, apesar de haver receios quanto à situação econômica nacional. A abertura do cronograma para saque ao FGTS e pagamentos do 13º salário devem contribuir para o poder de compra dos brasilienses e, para suprir a demanda, os lojistas preparam o estoque e começam as contratações temporárias.
Com o objetivo de fornecer mão de obra principalmente para datas como o Dia das Crianças, a Black Friday e o Natal, o Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista) abre nesta quarta-feira (2/10) as inscrições pelo site para trabalhos temporários de fim de ano. Serão ofertadas 2,1 mil vagas este ano contra 1,9 mil no mesmo período de 2018. A maioria dos contratos são os de balconistas, atendentes, motoristas e caixas.
O presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, avalia com otimismo as expectativas de vendas entre outubro e dezembro, historicamente o melhor período de faturamento das lojas. “Esperamos um crescimento de pelo menos 10% nestes últimos três meses em relação ao resto do ano. Os juros caíram, e a inflação está sob controle, o que aumenta o poder de compra”, afirma Edson. A quitação dos impostos e despesas típicas do começo de ano (matrículas, compra de materiais escolares) são outros fatores indicados por Edson que permitem aos consumidores gastarem mais no segundo semestre.
Somente para o Dia das Crianças, a previsão do Sindivarejista é de aumento de 3% nas vendas, índice 0,5% superior do que o indicado em 2018. Brinquedos, roupas, calçados e eletrônicos serão os produtos mais procurados, como ocorre anualmente. O levantamento também revela que 90% das crianças desejam ganhar brinquedos nesta data. Os 10% restantes se dividem entre roupas, calçados (principalmente tênis e chuteiras) e camisas de clubes de futebol.
Para a Black Friday, que este ano ocorre em 29 de novembro, a estimativa é de aumento de 4% em relação ao ano passado. “Cada vez mais essa cultura de descontos é aderida pelo consumidor brasiliense e entrou para o calendário de períodos importantes para o comércio. Ao lado do Dia das Crianças, serve como um termômetro para as compras de Natal”, explica Edson.
Em dezembro, o setor deve movimentar R$ 600 milhões, um aumento de R$ 100 milhões se comparado ao mesmo mês de 2018. O gasto médio com presentes deve ficar em R$ 250 contra R$ 230 do Natal passado. O cartão de crédito é a forma preferida de pagamento, correspondendo a aproximadamente 90% das vendas.
Apesar das expectativas de crescimento nas vendas, a partir da avaliação do cenário econômico atual, os empresários do setor produtivo ainda demonstram cautela na hora de indicar o que esperar neste fim de ano. Na opinião do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio/DF), Francisco Maia, os ainda altos índices de desemprego — realidade de aproximadamente 313 mil brasilienses — e a melhora lenta na economia são fatores que acabam mantendo essa visão mais conservadora.
“Os lojistas estão cautelosos. Não querem extrapolar nos investimentos e não conseguir vender, como aconteceu em outros anos. Mesmo assim, a realidade econômica está melhor e há mais dinheiro na mão dos consumidores”. Entre as razões para essa melhoria de poder de compra, ele destaca a liberação do FGTS e do décimo terceiro salário, além de uma ascensão na construção civil, que gerou 3,2 mil empregos no 1º semestre do ano.
Para o Dia das Crianças, o levantamento realizado pelo Instituto Fecomércio revela que 37,2% dos entrevistados esperam vender mais, em comparação a outros períodos do mesmo ano. Outros 13,8% acreditam que as vendas serão menores e 49% apostam em movimentações semelhantes. O estudo foi realizado com 500 empresários de 15 segmentos diferentes. “O Dia das Crianças acaba atendendo a um público mais específico. Por isso, apenas os segmentos que atingem essa faixa etária acabam fazendo uma avaliação mais progressista”, pondera Francisco Maia.
As chocolaterias têm previsão de vender a 53% mais para a data. As lojas de calçados e acessórios estimam aumento de 48,44% enquanto as de brinquedo esperam crescimento de 45%. O preço médio do presente foi estimado pelos lojistas em R$ 251,98.
Para ampliar os negócios, o lojista precisa adotar estratégias de mercado para competir com produtos da internet e de fora da região. É o que ressalta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal (CDL/DF), José Carlos Magalhães. “É necessário ter foco. Preparar antes e ter bom atendimento, novidades no jeito de entregar a mercadoria, diversidade de produtos a pronta entrega e preços atrativos. O cenário político e econômico interfere, mas o empresário precisa agir para conquistar, vender e fazer girar a economia local.”
Palavra de especialista
Cenário que anima
“O comércio está com indicadores positivos desde março deste ano. Apesar do crescimento não tão acelerado, é um quadro favorável, em especial para o setor varejista. A aquisição de bens duráveis tem uma recuperação bastante significativa atualmente, já que o segmento estava defasado, porque as pessoas adiavam o consumo em função das rendas em baixa.
De forma geral, é um cenário de retomada de consumo. O governo tem adotado medidas no sentido de estimular o poder de compra, como a liberação do FGTS e facilidades de certas linhas de financiamento. Ao dar condições de consumo às famílias, aumenta-se a demanda, e isso é determinante para o aumento da produção, gerando mais emprego e dando condições de compra a mais gente. É esse ciclo que aquece a economia e faz crescer o PIB.
O comportamento do consumidor é determinante. Quando ele valoriza as produções e comércio local, faz rodar o dinheiro e gera renda na região e esse é o caminho. Obviamente, é necessário manter um orçamento familiar equilibrado, com reservas que façam frente a adversidades e pagamento de despesas para não correr o risco de entrar no vermelho.”
(Correioweb)