Os nomes de flores tentam suavizar a dor e dar esperança a quem sofre agressões. O gênero de quem busca socorro é indiferente, e o suporte terapêutico, médico e psicossocial é a base de atuação da equipe multidisciplinar das unidades do Centro de Especialidade para Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepav).
Desenvolvido pelo GDF por meio da Secretaria de Saúde (SES), esse trabalho registra um número crescente de atendimentos ao longo dos últimos anos. Ao todo, são 17 Cepavs espalhados em 12 regiões administrativas, todos instalados em hospitais públicos e em algumas unidades básicas de saúde (UBSs). Das 8h às 18h, psicólogos fazem o acolhimento das vítimas, sejam mulheres, crianças, homens.
A partir dali são dados os encaminhamentos de acordo com a necessidade de cada caso. Todo o trabalho demanda parceria da SES com outros órgãos do GDF. Atuam em conjunto com os Cepavs as secretarias de Justiça, de Segurança Pública, de Assistência Social e de Educação, além dos conselhos tutelares.
Rede de flores
O primeiro centro surgiu em homenagem a uma vítima de violência doméstica chamada Violeta. Os nomes seguintes vieram formar o que hoje é chamado de rede de flores: Violeta, Flor-de-lótus, Alfazema, Caliandra, Orquídea e vários outros. “A saúde pública precisa ser transversal”, defende a chefe do Núcleo de Prevenção e Assistência à Violência, Elizabeth Maulaz. O acompanhamento é direcionado de acordo com a necessidade de cada vítima. A maioria é formada por mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade que envolve maus tratos e/ou violência.
Primeiro socorro
O suporte começa já nos pronto-atendimentos dos hospitais, 24 horas por dia, todos os dias da semana. Qualquer pessoa que sofreu uma agressão física ou sexual deve procurar uma UPA em até 72 horas. Quando isso acontece, ela recebe medicamentos contra infecções sexualmente transmissíveis e, quando é o caso, prevenção de gravidez em decorrência de estupro.
Decorridas 72 horas, a pessoa vai para o ambulatório, onde é acompanhada pela equipe psicossocial, composta por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, pediatras e ginecologistas. Há situações classificadas como violências crônicas – aquelas que já estão instaladas no cotidiano da vítima, mas não são denunciadas logo depois de ocorridas. Os casos de violência doméstica são os mais frequentes, e os Cepavs estão preparados para isso. “Durante a pandemia, os atendimentos não pararam”, alerta Elizabeth.
Etapas
A linha de cuidado dos centros tem quatro passos. O acolhimento é o primeiro deles, seja nos hospitais, horas após o ato de violência ser cometido, seja nos centros de especialidade. Em seguida se faz a notificação, que é compulsória, imediata. A pessoa que sofreu agressão é, então, acompanhada e, em seguida, direcionada, conforme a gravidade e demanda do seu caso.
Busca crescente
A procura por ajuda tem crescido ao longo dos últimos anos. Enquanto em 2017 foram registrados 3.721 atendimentos, em 2018 o número de mulheres, crianças e homens que procuraram os centros chegou a 5.488, passando para 7.593 em 2019. Até o dia 17 deste mês, as consultas prestadas pelos Cepavs registraram 2.674 vítimas em busca de suporte.
O enfrentamento a esses casos, conta Elizabeth Maulaz, é difícil, porém compensador. Ao lidar diretamente com o suporte às vítimas de violência, ela se emociona quando percebe os resultados positivos dos trabalhos aplicados. “É difícil, mas quando se vê a vítima ressignificando a violência que sofreu, torna-se muito gratificante para mim, como servidora da Secretaria de Saúde”, conclui.
(Agência Brasília)