O clima é de comoção e revolta na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, na 702 Norte, onde o corpo do padre Kazimerz Wojno, conhecido como padre Casemiro, 71 anos, é velado na manhã desta segunda-feira (23/09/2019). Ele foi vítima de um assassinato brutal no fim de semana. Os bandidos fizeram uma emboscada no momento em que o religioso fiscalizava uma obra nos fundos da paróquia. E também deixaram o caseiro amarrado. O governador Ibaneis Rocha (MDB) chegou na cerimônia por volta das 10h.
“Eles amarraram muito forte o arame, que estava todo torcido. Assisti o policial tentando tirar, porque estava muito difícil”, conta uma das testemunhas, que chegou com a polícia ao local. Ela conta que o caseiro José Gonzaga da Costa foi criado pelo pároco desde os 16 anos. Após ser libertado, teria dito, ainda segundo a testemunha. “Pai, você me deixou”.
Testemunhas disseram que o caseiro estava com a boca cheia de plástico, também com braços e pernas amarradas. Chegaram a pensar que ele estava José participa da despedida do padre na Igreja, mas não falou com a imprensa até o momento. Segundo uma amiga dele, que não quis ser identificar, o homem contou que padre Casemiro teria dito no momento em que os bandidos amarraram ambos. “Não faz isso, não faz isso. Essa frase não sai da cabeça dele”.
“É uma tragédia o que aconteceu. Prestamos apoio à família e à comunidade, que rezem muito por paz e possam ser confortados”, disse o governador Ibaneis. Segundo ele, que o padre Casemiro possa ser lembrado como exemplo de dedicação e trabalho, pelos serviços que prestou a comunidade. “Agora vamos focar em reforçar a segurança no DF”, afirmou.
Ibaneis disse que, apesar dos índices de violência terem caído ainda há muita sensação de insegurança no Distrito Federal, assaltos à paróquia têm ocorrido com frequência, principalmente na Asa Norte. A própria Paróquia Nossa Senhora da Saúde já tinha sido alvo de bandidos. “Nos precisamos aumentar o efetivo da polícia e colocar mais viaturas circulando por essas áreas. Só assim as pessoas se sentirão mais seguras”, ressaltou o governador.
Alguns fiéis já aguardavam o corpo no começo da manhã. Entre eles, Ana Maria de Lima Marques, 60, que pediu “paz e justiça”. Maurício Cignachi, 44, conhecia o padre desde que chegou em Brasília, em 1995. Ele diz que ficou chocado com a notícia. “Ele batizou minha filha. Sempre fui muito bem-recebido, sempre vinha nas missas sábado de manhã. Era muito aberto para conversar. Um cara especial”, disse.
Na homilia, padre Júlio César Gomes Moreira, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, de Sobradinho, disse que a vítima, por ser polonês, era como um “envelope”, pois tinha um jeito mais fechado. “Mas era sempre muito atencioso e foi escolhido por Deus para cuidar desta comunidade”, ressaltou. Padre Casemiro chegou em Brasília em 16 de fevereiro de 1984, e assumiu a Igreja na 702 Norte um ano depois.
Ivonilde Gonzaga Lopes, 67, conta que a paróquia foi inaugurada em 1978, no dia do seu aniversário, em 8 de agosto. “Foi um choque muito grande. Ele é um filho de Seus. Estamos todos unidos em espírito, sentimos demais essa perda”, afirma. O governador Ibaneis decretou luto de três dias pela morte do padre.
Suspeitos
O crime ocorreu na noite desse sábado (21/09/2019), no momento em que o padre saía de uma missa e se dirigia ao terreno da paróquia. Os autores agiram com requintes de crueldade e usaram um arame para matar o sacerdote enforcado. Ele foi encontrado com mãos e pés atados e o arame envolto ao pescoço – além de uma lesão na cabeça.
A Polícia Civil afirma já ter nomes de suspeitos de envolvimento no assassinato do padre Casemiro. Segundo o delegado Laércio Rosseto, as identidades não serão reveladas para não atrapalhar as investigações. Desde o início da tarde desse domingo (22/09/2019), os investigadores colhem depoimentos de envolvidos, testemunhas e do caseiro, que foi mantido refém pelos bandidos juntamente com o pároco.
De acordo com a polícia, a casa tinha cofres modernos e os criminosos estavam preparados para arrombá-los. Sabiam onde estavam. “Tinha cofre de um metro e meio de altura”, pontuou. Os bandidos levaram uma “makita”, pé-de-cabra, barras e picaretas.
As pessoas estão sendo ouvidas e as informações são conflitantes. Há pontos divergentes e que não estão ainda esclarecidos. Os suspeitos ouvidos podem não ter atuado diretamente no crime, mas, sim, de forma indireta. Ainda é cedo e precisamos ter cautela”, afirmou Rosseto, durante o fim de semana.
A polícia tem imagens da movimentação dos suspeitos. Uma das gravações mostra o rosto de um investigado. O conteúdo ainda está sendo analisado e, por isso, ainda está sendo mantido sob sigilo. Rosseto revelou que uma das linhas de investigação suspeita de moradores de rua da região. “Ele (Casemiro) era uma pessoa muito austera e muito correta”, ressaltou. “Estamos checando se houve desavença com algum morador de rua”, completou.
(Metrópoles)