O advogado de Rafaela Victor Santana, 28 anos, acusada de tomar à força a filha biológica da família adotiva, negou que sua cliente tenha abandonado a menina logo após o parto. Segundo Thiago Caixeta, não se pode falar em sequestro ou subtração de menor, uma vez que Rafaela queria “apenas buscar a filha”. “Nos três primeiros anos, ela teve contato ativo com a garota, mas a família adotiva cortou todas as interações por ter se apegado demais”, contou.
Embora alegue não saber do paradeiro de Thaissa Ayane Borges Tavares, 8 anos, o defensor garantiu que ela está bem e medicada. A garota precisa tomar diariamente remédios em função de problemas intestinais.
De acordo com Thiago, a mulher tem todas as documentações que comprovariam o direito de Rafaela sobre a criança e que a papelada seria apresentada em momento oportuno. “A Thaissa, inclusive, reconheceu a irmã de 10 anos e a Rafaela como mãe. A Rafaela ia no hospital ver a criança quando ela precisou ficar internada. A família adotiva se pré-dispôs a ajudar, usou da boa-fé e pegou vínculo com a menina”, comentou o advogado.
A família que cria a garota contesta a versão do advogado. A mãe adotiva da garota, Zilma Borges Custódio, 57 anos, está em choque e sem condições de falar. De acordo com uma das filhas, ela só chora. “Está sem entender, fala que tiraram a menina que criamos desde pequena”, conta Thais Borges, 25.
Thayanne Borges, 30, filha de Zilma, contou detalhes do desaparecimento da irmã adotiva. “Conhecemos a Rafaela quando morávamos em Samambaia. Ela era nossa vizinha na época e trabalhava como costureira. Começamos a levar algumas roupas para consertar lá. Quando ela engravidou, contou que não queria a criança, que era uma gravidez indesejada. Ela chegou para a minha mãe e perguntou: ‘a senhora quer?”, narrou Thayanne.
Em resposta, Zilma disse que aquilo “não se fazia com uma criança”. De acordo com Thayanne, a mãe biológica de Thaissa ameaçou abandoná-la ainda no hospital. Nesse momento, Zilda resolveu acolhê-la. A criança nasceu com problemas de saúde, com um sopro no coração, e chegou a ficar internada por 17 dias. Além disso, foi diagnosticada com lesão nos rins e intestino perfurado. Após passar por cirurgias e anos de recuperação, a família oficializou a adoção da criança e já tem a guarda provisória.
“Quando sentamos para conversar sobre a adoção com a genitora, deixamos claro: não há devolução. Ela concordou e disse que não queria nada com a menina, que nunca iria pegá-la e sabia que estava sendo bem cuidada”, afirma Thayanne. A irmã da vítima comentou que a suspeita chegou a ligar algumas vezes para saber como estava a criança, mas quando mudou de Samambaia, nunca mais entrou em contato. Na época, Thaissa tinha menos de 2 anos.
“Minha irmã não conhece essas pessoas que a pegaram, não sabem quem são. Deve estar muito assustada. Somos muito apegadas. Espero que a encontrem logo”, desabafa Thayanne.
Remédio
Além da mobilização em busca da menina, as irmãs se preocupam com os estado de saúde dela, que necessita tomar remédio para que o intestino não resseque. Quando isso ocorre, ela precisa ser levada ao hospital. “São três remédios que ela precisa tomar e a genitora que a levou não sabe disso. Quanto mais o tempo passa, mais preocupado a gente fica”, lamenta Thayanne.
De acordo com o delegado Bruno Dias, que conduz as investigações na 14ª Delegacia de Polícia (Gama), a obtenção da guarda provisória conseguida por Zilma para fins de adoção pode ter despertado arrependimento na mãe biológica. “Até então, a mãe biológica estava ciente e concordando com a adoção”, explica.
O investigador destaca que a família adotiva chegou bem abalada à unidade policial. Bruno disse não ter tido contato com a família biológica e que o paradeiro da criança ainda é um completo mistério. “Fomos em possíveis endereços e não encontramos ninguém”, comenta.
Tirada à força
A recepcionista Thayanne Borges diz ter saído de casa para deixar Thaissa na escola, um caminho percorrido diariamente e que dura cerca de cinco minutos. No meio do trajeto, um carro parou e um homem a agarrou por trás, imobilizando-a. “Eu tentei segurar a Thaissa, mas não consegui, eles a tiraram a força. Ela gritava muito e esperneava. Gritava: ‘dindinha, dindinha, socorro’. Eu fiquei desesperada. Pegaram ela pelas pernas e a jogaram no carro. Fiquei gritando na rua, pedindo socorro”, lembra Thayanne.
Ela diz ter reconhecido a genitora na hora, apesar dela ter usado um boné para disfarçar. Durante o ato, Thayanne diz ter gritado: “Rafaela, não faz isso, pelo amor de Deus!”. A irmã da vítima lembra que um vizinho tentou perseguir o carro, mas o perdeu de vista em uma rodovia que corta Santa Maria.
Relatos de testemunhas também descrevem uma troca de carros. Os supostos criminosos passaram do Citroen C3 branco utilizado inicialmente para uma Hilux prata.
Afeto
Outra irmã da vítima, a agente de aeroporto Thaís Borges descreve o sentimento da família desde o dia do crime. “Fiquei muito mal. Não imaginávamos que ela faria isso, estamos realmente sem chão. Essa foi a pior noite das nossas vidas”. “Ela é muito amorosa, faz cartinha dizendo que nos ama e vários desenhos da nossa família. Está fazendo muita falta”, desabafa.
O quarto da criança de apenas 8 anos não a deixa mentir: há desenhos dos irmãos e da mãe espalhados por todo lado, junto a bonecas e caderninhos com mais declarações de amor. Thaissa faz balé desde os 5 anos e também tem aulas de violão e inglês.
(Metrópoles)