Na Região Norte, 40% das crianças do ensino fundamental e quase metade dos alunos do ensino médio ficaram sem atividades em julho
Em meio à pandemia, que forçou o fechamento de escolas e universidades para conter a disseminação do novo coronavírus, 8,7 milhões de crianças, adolescentes e jovens do País não tiveram qualquer acesso a atividades de ensino remota em julho. Apenas sete em cada dez estudantes tiveram alguma aula a distância. A oferta de classes não presenciais, para evitar o atraso no calendário e déficit de aprendizagem, tem sido um desafio para uma parcela significativa das redes públicas. Especialistas também têm apontado alto risco de evasão escolar nos próximos meses.
Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Covid (Pnad Covid-19) mensal, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O acesso a atividades educacionais foi um dos seis novos temas abordados em julho.
Cerca de 45,3 milhões de pessoas de 6 a 29 anos frequentavam escola ou universidade no mês de julho, o equivalente a 58,7% da população nessa faixa etária. Entre os que estudavam, 72% tiveram atividades remotas, o equivalente a 32,6 milhões, enquanto 19,1% não tiveram e uma fatia de 8,9% não teve por estar de férias.
O resultado, porém, é marcado por desigualdades regionais. Na Região Norte, 40% das crianças do ensino fundamental e quase metade dos alunos do ensino médio ficaram sem atividades durante julho, embora não estivessem de férias. Por outro lado, no Sul, 91,7% das crianças do fundamental e quase 90% das do ensino médio tiveram acesso a atividades educacionais remotamente no mês.
Jovens de famílias com menor renda domiciliar per capita tiveram menos acesso. Entre os que viviam em casas com rendimento per capita de até meio salário mínimo, 24,2% não tiveram acesso a educação remota, ante uma fatia de 9,5% entre os de casas com renda per capita de 4 salários ou mais.
Além da falta de recursos e experiência para organizar classes remotas, Estados e municípios têm reclamado de pouco apoio do governo federal para lidar com as necessidades educacionais durante a crise sanitária. Já o Ministério da Educação tem reforçado a autonomia de governadores e prefeitos para construir suas políticas.
Segundo educadores, ainda haverá demanda por aulas remotas por um longo período, uma vez que a volta gradual das classes aponta para a necessidade de ensino híbrido, com atividades a distância e presenciais. O cenário de reabertura dos colégios tem grandes variações pelo País: São Paulo, por exemplo, prevê a retomada, de atividades extras e de reforço, só no mês que vem. Já no Amazonas houve retorno de escolas públicas e privadas, com medidas de higiene e distanciamento social.
Quarentena
Na pandemia, 92 milhões de brasileiros – 43,6% da população – disseram que ficaram em casa no mês de julho, com saídas apenas para suprir necessidades básicas, conforme a Pnad Covid-19. Médicos e cientistas apontam o distanciamento social como uma das estratégias mais efetivas para evitar o contágio acelerado.
“A maior parte das pessoas fez a restrição, não saiu de casa”, disse Maria Lucia Vieira, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE. Desse total em quarentena, 49,2 milhões ficaram rigorosamente isolados. Ao mesmo tempo, 4,1 milhões de pessoas não adotaram nenhuma medida de restrição à disseminação do novo coronavírus (2% da população). Outros 64,4 milhões (uma fatia de 30,5% da população) reduziram o contato, mas continuaram saindo de casa. As mulheres, as crianças e os idosos obedeceram mais às recomendações de isolamento social, apontou o IBGE. Os cuidados também foram tomados em casa.
A pesquisa levantou ainda que, entre os 211,1 milhões de brasileiros, havia 47,2 milhões, ou 22,4% da população, com alguma das comorbidades pesquisadas. A mais frequente foi hipertensão, seguida por asma ou bronquite ou enfisema, diabete, depressão, doenças do coração e câncer.
Diagnóstico
Mais de 13,3 milhões de brasileiros já fizeram algum teste para diagnosticar a doença desde o início da pandemia. Duas em cada dez pessoas testadas até julho tiveram resultado positivo para covid-19, o equivalente a 2,7 milhões de contaminados no País.
Segundo a Pnad Covid, a unidade da Federação com maior porcentual de testes feitos foi o Distrito Federal, com 16,7% da população testada, seguido por Amapá (11,0%) e Piauí (10,5%). Pernambuco registrou o menor porcentual de testes na população (4,1%), patamar semelhante ao de Minas (4,5%), Paraná (4,5%) e Rio Grande do Sul (4,5%). O acesso aos testes se concentrou nas pessoas com maior instrução e maior poder aquisitivo.
(Estadão Conteúdo)