A Rússia registrou a primeira vacina contra o novo coronavírus do mundo nesta terça-feira, 11, apesar da desconfiança política internacional e da comunidade científica sobre a proteção, uma vez que nenhum estudo relacionado à ela foi divulgado até o momento.
Segundo autoridades russas, isso acontecerá até o final deste mês. Uma promessa que precisa ser cumprida para sanar certas dúvidas que ainda pairam no ar sobre a vacina.
No final de julho o país foi acusado pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos de ter tentado hackear informações sobre os respectivos desenvolvimentos de vacinas a fim de derrubá-las, em uma nova guerra fria pela proteção contra a covid-19.
O presidente do país, Vladimir Putin, afirmou que sua filha foi vacinada. “Uma de minhas filhas foi vacinada, tendo participado da fase de testes. Após a primeira vacinação, ficou com 38 graus de temperatura, no dia seguinte tinha 37 graus e pouco. E é tudo”, afirmou ele.
Mas isso significa que o país (ou o mundo) já está livre do coronavírus? Não é bem assim.
Para uma vacina ser aprovada, ela precisa passar por diversas fases de testes clínicos prévios e em humanos. Primeiro, ela passa por fases pré-clínicos, que incluem testes em animais como ratos ou macacos para identificar se a proteção produz resposta imunológica.
A fase 1 é a inicial, quando os laboratórios tentam comprovar a segurança de seus medicamentos em seres humanos; a segunda é a fase que tenta estabelecer que a vacina ou o remédio produz imunidade contra um vírus. Já a fase 3 é a última do estudo e tenta demonstrar a eficácia da imunização. Uma vacina é finalmente disponibilizada para a população quando essa fase é finalizada e a proteção recebe um registro sanitário.
Por fim, na fase 4, a vacina ou o remédio é disponibilizado para a população. Para chegar mais rápido ao destino, muitas opções contra a covid-19 nem passaram pela fase pré-clínica e outras estão fazendo fases combinadas, como a 1 e a 2 ao mesmo tempo. Mesmo após passar por algumas das fases (como a 1 e a 2), uma vacina pode não ter sua eficácia comprovada, o que nos faria voltar à estaca zero.
A vacina da Rússia, por exemplo, até o momento só passou pelas fases 1, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e pela fase 2, segundo o próprio governo russo. Na semana passada, de acordo as autoridades russas, a vacina foi capaz de criar uma resposta imune 100% eficaz, que “dobrou quando uma segunda dose foi administrada”. A última fase teria início neste mês, mas nenhuma data foi confirmada.
A Rússia é o quarto país mais afetado pelo SARS-CoV-2 no mundo, com 895.691 casos confirmados e 15.103 mortes, segundo o monitoramento em tempo real da universidade americana Johns Hopkins. Para ter certeza de que a vacina deu certo, é preciso ficar atento para as campanhas de vacinação no país e também se acontecerá uma queda no número de doentes e óbitos.
Com isso, as medidas de proteção, como o uso de máscaras, e o distanciamento social ainda precisam ser mantidas. A verdadeira comemoração sobre a criação de uma vacina deve ficar para o futuro, quando soubermos que a imunidade protetora realmente é desenvolvida após a aplicação de uma vacina. Até o momento, nenhuma situação do tipo aconteceu.
A corrida pela cura
Nunca antes foi feito um esforço tão grande para a produção de uma vacina em um prazo tão curto — algumas empresas prometem que até o final do ano ou no máximo no início de 2021 já serão capazes de entregá-la para os países. A vacina do Ebola, considerada uma das mais rápidas em termos de produção, demorou cinco anos para ficar pronta e foi aprovada para uso nos Estados Unidos, por exemplo, somente no ano passado.
Uma pesquisa aponta que as chances de prováveis candidatas para uma vacina dar certo é de 6 a cada 100 e a produção pode levar até 10,7 anos. Para a covid-19, as farmacêuticas e companhias em geral estão literalmente correndo atrás de uma solução rápida.
Nenhum medicamento ou vacina contra a covid-19 foi aprovado até o momento para uso regular, de modo que todos os tratamentos são considerados experimentais.
(Portal Exame)