A curva da epidemia está rapidamente acelerando no país, em um crescimento exponencial, no momento em que o governo do presidente Jair Bolsonaro aumenta a pressão para a redução das medidas de isolamento e um dia após a queda de Nelson Teich do Ministério da Saúde.
Para especialistas, deveríamos estar na direção contrária, adotando o “lockdown”, sob o risco de testemunharmos uma tragédia.
“Nesse ritmo, no dia 20 devemos passar de 20 mil mortos. Não estaríamos assim se estivéssemos tomando medidas mais adequadas de contenção. Mas, se o presidente conseguir quebrar as restrições que municípios e Estados estão adotando, vamos ver esses números crescerem ainda mais rapidamente”, diz o físico Domingos Alves, da USP de Ribeirão Preto.
O pesquisador integra o grupo Covid-19 Brasil, uma força-tarefa de cientistas de mais de dez universidades brasileiras que atua desde o início da epidemia no País monitorando casos e fazendo previsões de crescimento com técnicas de ciências de dados. A estimativa é de que a taxa de crescimento possa ficar cinco vezes mais rápida que a atual se for implementado um isolamento mais brando, como proposto por Bolsonaro.
Pelos cálculos do grupo, se os municípios com mais de 80% de ocupação dos leitos de UTI implementarem “lockdown”, e aqueles com entre 60% e 80% de lotação adotarem medidas mais restritivas com mais de 70% da população em isolamento, o número de óbitos deve começar a cair entre fim de julho e começo de agosto. “Mas já teremos algo em torno de 80 mil óbitos”, estima Alves.
Segundo especialistas, o País ainda não chegou ao pico, mas o nível de crescimento atual preocupa. “A epidemia não funciona como acidentes geográficos onde há montanhas com picos bem determinados. Saberemos quando foi quando ele tiver passado. Estamos em uma curva ascendente de quase mil óbitos por dia com grande probabilidade de nos aproximarmos das mortes dos países europeus em 15 dias”, afirma o epidemiologista Paulo Lotufo, da USP.
‘Lockdown’
Para ele, o “lockdown” deveria ter sido aplicado na região metropolitana de São Paulo há duas semanas. “Os números mostram que a situação está completamente fora de controle. E os dados não indicam que estamos nos aproximando do pico”, complementa o médico Ricardo Schnekenberg, doutorando na Universidade de Oxford, que vem também acompanhando o desdobramento da epidemia no País.
Ele comparou a taxa de crescimento de mortes por milhão de habitantes nos 12 países com mais vítimas ao longo dos últimos dez dias e observou que a do Brasil é das mais altas. Os valores de sexta foram quase 80% mais altos que os do dia 6, crescimento similar ao observado no México.
(Portal Estadão Conteúdo)