Os recentes casos de intoxicação por bebidas adulteradas em São Paulo, que resultaram em hospitalizações, cegueira e mortes, chamaram a atenção para um tema importante: afinal, qual a diferença entre o etanol — presente nas bebidas alcoólicas — e o metanol, usado em aplicações industriais, e que é altamente tóxico para consumo humano?
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O etanol (C₂H₆O) é o tipo de álcool encontrado em cervejas, vinhos, destilados e licores. Em concentrações diferentes, pode estar presente em perfumes, cosméticos, antissépticos e até em combustíveis. Sua principal característica é que, quando ingerido de forma moderada e dentro de produtos regulamentados, não representa riscos graves à saúde, embora o consumo excessivo esteja associado a doenças crônicas.
As aplicações do etanol variam conforme a concentração:
- 20% → bebidas como cerveja e vinho;
- 20% a 50% → destilados, licores, perfumes;
- 70% → desinfetantes e antissépticos;
- 95% a 99% → combustíveis e usos laboratoriais.
O metanol (CH₃OH) tem propriedades físicas semelhantes ao etanol — é incolor, inflamável e com cheiro parecido. No entanto, sua estrutura química faz com que ele seja processado de maneira diferente pelo organismo. Quando ingerido, o metanol se transforma em ácido fórmico, substância extremamente tóxica que compromete órgãos vitais.
Ele é usado legalmente na fabricação de solventes, tintas, plásticos, formol, removedores de tinta e na produção de biodiesel. Mas nunca deve ser ingerido, nem em pequenas quantidades.
Riscos à saúde
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor-executivo do Instituto Penido Burnier, a ingestão de metanol pode causar danos irreversíveis à visão. Isso porque o ácido fórmico ataca o nervo óptico, desencadeando uma inflamação chamada neurite óptica. “Se não tratado rapidamente, o quadro pode evoluir para cegueira irreversível”, alerta.
Além disso, a intoxicação sistêmica por metanol pode provocar lesões graves no fígado, rins, coração e até no cérebro, podendo levar à morte.
Os sintomas iniciais aparecem entre 12 e 24 horas após o consumo, pois o etanol presente em bebidas retarda o metabolismo do metanol. Entre eles estão:
- visão turva, dor nos olhos e sensibilidade à luz;
- náuseas, vômitos e dor abdominal;
- dor de cabeça intensa;
- alteração da consciência.
Tratamento
As primeiras 48 horas após a ingestão são decisivas para salvar a visão e a vida do paciente. Os casos graves exigem hemodiálise para eliminar o metanol da corrente sanguínea. Em situações menos severas, pode ser usado o fomepizol, um antídoto específico. Corticosteroides também podem ser aplicados para reduzir inflamações no nervo óptico.
Para evitar intoxicações, especialistas orientam sempre verificar se a bebida possui registro da Anvisa, selo fiscal e lacre de segurança intacto.
(Portal Terra)