Após sobreviver ao ataque de um namorado em Barretos (SP), uma mulher, que prefere não se identificar, encoraja outras como ela a denunciar os abusos cometidos pelos próprios companheiros, apesar das promessas reiteradas deles de que a violência não vai se repetir.
Em 2019, ela foi esfaqueada dentro de casa e só escapou porque se fingiu de morta. O suspeito está preso preventivamente e responde por tentativa de feminicídio.
“Te bateu uma vez, acabou. Vai bater sempre, sempre, sempre. Um recado que eu dou é não se sujeite a isso. A gente merece muito mais. Começa com uma agressão, um xingamento, aí chora. Depois é um empurrão, aí fala ‘me perdoa’. Tirem isso da cabeça, porque isso não muda”, diz.
Apesar de as marcas da agressão ainda estarem pelo corpo, ela se sente aliviada por poder recomeçar a vida.
Infelizmente, muitas não têm a mesma chance que eu tive para estar aqui hoje. Eu agradeço a Deus por mais uma oportunidade de vida que ele me deu.”
Relação
O relacionamento teve início por meio de um aplicativo. Ela e o homem trocaram mensagens por um ano, mas ela relutou conhecê-lo pessoalmente durante esse tempo. Após muita insistência dele, em 2019, os dois marcaram o primeiro encontro.
“Começamos a namorar. Eu gostei dele, ele gostou de mim. No começo, eu pensava: ‘nossa é o homem que eu pedi a Deus’. Aquela pessoa perfeita.”
Mas, segundo a mulher, o comportamento do namorado mudou após três meses de relação. Segundo ela, o homem passou a controlar os passos dela, chegando a vigiá-la no trabalho, e a monitorar as conversas no celular.
Em uma das brigas por causa do ciúme excessivo, ele ameaçou matá-la com uma faca. A vítima correu para fora de casa, mas foi perseguida e jogada no chão. Por causa da queda, ela rompeu os ligamentos da mão e sofreu uma fratura no braço. Ainda é preciso fazer fisioterapia para os movimentos.
“Ele falou que se eu desse parte, ele ia me matar. Eu dizia que tinha caído de moto com ele.”
Com medo, por várias vezes, a mulher tentou terminar o relacionamento, mas passou a ser constantemente ameaçada de morte pelo namorado. As agressões e as humilhações aconteciam até mesmo na frente de amigos do casal.
Apesar de dizer com frequência que iria mudar o comportamento, a vítima afirma que isso nunca aconteceu e que os episódios violentos eram cada vez mais comuns. Em maio de 2019, ela disse ao companheiro que iria contar aos amigos que ele a agredia, mas o homem reagiu e a atacou com uma faca.
“Eu me vi morrendo, mas Deus é maravilhoso. Eu ouvi uma voz na minha cabeça falando finge de morta. Só quando eu fingi de morta foi que ele saiu de cima de mim. Enquanto ele viu que eu estava viva, ele não parava.”
Proteção da mulher
Após sobreviver ao ataque, a mulher decidiu denunciar o agressor. Segundo a delegada Denise Vichiato Polizelli, da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Barretos, em muitos casos, as mulheres deixam de acusar os companheiros por terem esperança de que eles deixarão de ser agressivos. Mas a conduta deles só se agrava.
Em janeiro deste ano, 4.942 agressões mulheres foram vítimas de agressões no estado de São Paulo. Do total, 3.062 casos foram registrados no interior.
Na região de Ribeirão Preto, segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), em 2019, 12 mulheres foram mortas. Em 2020, já são três vítimas fatais da violência.
“O que a gente alerta é sempre isso: começaram os episódios de violência, para que ela identifique essa situação e se resguarde. Se o companheiro não aceitar o fim desse relacionamento e for necessário, pedir uma medida protetiva de urgência para que ele seja afastado dela. O mais importante é resguardar a integridade física da mulher”, diz a delegada.
(Portal G1)