Logo que o avião de São Paulo até Brasília pousou na manhã desta sexta-feira, 30, alguns passageiros puxaram o coro de ‘olê, olê, olê, olá… Lula, Lula’ e logo na sequência emendaram um dos principais hits da eleição presidencial de 2022, “Tá na hora do Jair já ir embora”. Foi nesse clima que a reportagem do desembarcou na capital federal para acompanhar a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no dia 1º de janeiro.
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Embora o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek não estivesse muito movimentado, volta e meia apoiadores de Lula, identificados com camisetas do PT ou estampadas com o rosto do presidente eleito, cruzavam o portão de desembarque. O clima era de animação e pouca preocupação com possíveis hostilidades que poderiam encontrar.
“Estou com minha passagem comprada há quatro meses, porque sempre confiei na volta de um presidente decente no Brasil”, disse Mauro Meirelles, que veio de São Paulo e desembarcou usando um boné do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
“Estou muito ansioso por essa posse, vai ser uma festa linda, apesar das pessoas que querem acabar com o brilho da festa, a democracia vai vencer”, completou, mencionando apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que estão acampados em frente ao QG do Exército, na capital federal, e falam em não deixar Lula subir a rampa para ser empossado como presidente.
Esse é o mesmo sentimento de Junéia Batista, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que afirmou estar se sentindo segura apesar das ameaças. “Não podemos ter medo, eles fazem essas coisas para intimidar as pessoas, mas isso é terrorismo, não é democracia”, falou na conversa com a reportagem. Questionada sobre o fato de Bolsonaro ter deixado o país para não passar a faixa a Lula, ela comentou: “Eu não defendo que ele pegue as malinhas e vai embora, não, ele tem que ser preso”.
Junéia estava acompanhada de Eneida Ávila, professora aposentada que disse ter expectativas positivas para a posse. “Estou me sentindo em 1985. Nós estamos redemocratizando o Brasil novamente, esse é o nosso sentimento”.
No aeroporto, porém, nem todo mundo estava satisfeito. A reportagem encontrou alguns motoristas de aplicativo por lá que viraram os olhos quando ouviram falar sobre a posse. Com receio do que chamaram de “perseguição do Supremo Tribunal Federal”, eles falaram sob a condição de anonimato.
“Eu não acredito nessa eleição, para mim, tem alguma coisa errada, se não tinham mostrado o código fonte [das urnas eletrônicas]; o Alexandre de Moraes (ministro do STF) teria mostrado, mas a gente já sabe o posicionamento desse ministro. Não tem como confiar”, afirmou um dos motoristas, acrescentando apoiar as manifestações bolsonaristas em frente aos quarteis.
“Não é certo quererem acabar com esses protestos. Quem quer se manifestar tem o direito de fazer, o tempo que quiser, está na Constituição. Mas, a gente vê gente sendo presa por gravar vídeo falando contra o resultado das eleições, por isso eu tenho receio. Se eu mostrar o rosto falando essas coisas, é perigoso me levarem preso. Por isso, não vivemos em uma democracia, né. Eu não acredito mais em democracia”.
Um colega de profissão que estava ao lado ponderou e disse concordar com a posse de Lula, porque é assim que as coisas são, mas reclamou do que chamou de “falta de critérios” para candidatura de presidente da República. “O que não deveria ter acontecido é terem aceitado uma pessoa dessa [Lula] para ser candidato. Tinha que ter critérios. O cara é ex-presidiário, então para mim, não serve [para o cargo]. Mas, conseguiram colocar ele lá, então tem que receber a faixa [presidencial], sim”, completou.