A maioria dos pacientes hospitalizados com a covid-19 no início de 2019 na China continua apresentando pelo menos um sintoma da doença mesmo seis meses depois dos primeiros sintomas. É o que revela um estudo divulgado anteontem pela revista médica The Lancet.
Veja também
Farmacêutica brasileira União Química começará produção de vacina russa na próxima semana
Relatos de persistência dos sintomas e sequelas são comuns entre pacientes e já motivaram a criação de centros de reabilitação específicos para essas pessoas – o que mostra que ser um “recuperado” do coronavírus não significa necessariamente estar curado. Mas o trabalho de agora é o primeiro a traduzir em números esse impacto de longo prazo.
Os pesquisadores, liderados por Chaolin Huang, do Hospital Jin Yin-tan – de Wuhan, onde surgiu a doença -, avaliaram 1.733 pacientes diagnosticados entre janeiro e maio com acompanhamento entre junho e setembro passados. A maioria (76%) ainda apresentava pelo menos um sintoma após seis meses do diagnóstico. O mais comum foi fadiga e fraqueza muscular (63% dos pacientes), seguido de dificuldades para dormir (26%). Ansiedade e depressão foram reportados por 23% dos pacientes.
Aqueles que ficaram mais gravemente doentes no hospital apresentaram com maior frequência, depois de seis meses, a função pulmonar prejudicada e anormalidades detectadas em imagens do tórax, o que poderia indicar uma lesão de órgão. Somente uma pequena parcela (390 pacientes) passou por esses testes complementares para avaliar a função pulmonar. Entre eles aqueles que precisaram de ventilação (nível mais grave), 56% tiveram redução do fluxo de oxigênio dos pulmões para a corrente sanguínea. Entre os que precisaram de oxigênio, 29% tiveram esse impacto.
“Nossa análise indica que a maioria dos pacientes continua a viver com pelo menos alguns dos efeitos do vírus após a alta hospitalar”, comentou Bin Cao, do Centro Nacional de Medicina Respiratória, que orientou o estudo.
No Brasil
Para o pneumologista brasileiro Carlos de Carvalho, do Incor e do HC, que participa de um estudo para identificar essas sequelas no longo prazo, mais trabalhos como este vão ajudar não somente a orientar a reabilitação de pacientes como a tratar os que precisam ser hospitalizados. A pedido do Estadão ele avaliou o estudo chinês e disse que os achados são bastante relevantes. Os sintomas mais comuns relatados em Wuhan também são mencionados no Brasil.
O trabalho do HC ainda está na fase inicial. A ideia é acompanhar ao longo de um ano 1,2 mil pacientes internados no hospital. Segundo Carvalho, 10% da amostra começou a ser avaliada em dezembro. “Percebemos os pacientes um pouco mais queixosos do que esperávamos”, relata Carvalho. Uma análise da Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo em novembro apontou que até 40% dos curados da covid-19 têm sequelas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
(Estadão Conteúdo)